O Brasil é vice-líder mundial nesse ranking de países com alto número de cesáreas, com mais da metade do total de partos feitos por cesariana, ou seja, 52%, quando a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) indica o máximo de 15% como taxa aceitável. Na rede privada, o índice é ainda pior e sobe para 83%, chegando a mais de 90% em algumas maternidades.
Segundo o obstetra João Ulisses Ribeiro, o número de cesarianas tem crescido nos últimos tempos, devido ao aumento de complicações nas gestantes da região. “A cesariana não deixa de ser considerado um fato de evolução dentro da resolução da gestação, desde que seja bem indicada. Se o médico tentar um parto normal em uma gestação de alto risco, há perigo materno e para a criança. Na verdade, se a cesariana é bem indicada, é salvadora. Há, porém, um detalhe. À medida que o médico indica a cesariana, diminui a mortalidade até certo ponto; depois, a mortalidade começa a aumentar quando é desnecessária”, esclarece.
Na avaliação do especialista, a gravidez tardia seria um dos motivos para o aumento do número de cesarianas. “As mulheres procuram se estabelecer primeiro na carreira profissional, na vida financeira e cultural para depois pensar em construir uma família. Com isso, o parto será mais tarde e, consequentemente, trará repercussões por ocorrer após os 35 anos, quando a incidência de doenças como diabetes, hipertensão e lúpus é muito maior. São doenças que aparecem no ciclo reprodutivo da mulher e interferem na incidência de cesarianas”, frisa João Ulisses Ribeiro.
O que muitas pessoas desconhecem são as vantagens que um parto normal pode trazer ao bebê e para a mãe. Estudos comprovam que as chamadas “cesáreas eletivas”, ou seja, aquelas marcadas conforme a vontade do médico ou da família, e não correspondente ao início das contrações do parto, são as que representam maior risco. Nesse tipo de parto, a mãe agenda o dia do nascimento e o bebê nasce, sem que ela entre em trabalho de parto, o que pode causar problemas de saúde, principalmente respiratórios, na criança.
No decorrer da história, o processo fisiológico do parto natural sempre foi visto como dolorido e sofrível, fazendo com que a mulher tivesse uma visão distorcida em relação ao nascimento. Embora todos saibam que a fisiologia do parto envolve uma experiência corporal intensa e natural, é possível encará-la com prazer e alegria, desfazendo-se de mitos, já que hoje há maneiras e técnicas para tornar o parto um momento mais tranquilo para a mãe e a criança.