OMS cobra investimentos em serviços de prevenção e tratamento de doenças mentais, distúrbios associados ao uso de drogas, e outras substâncias como álcool.
Conforme estimativa, mais de 450 milhões de pessoas sofrem de distúrbios mentais no mundo, sendo cinco milhões somente no Brasil. No Dia Mundial da Saúde Mental, a Organização Mundial da Saúde (OMS) cobra mais investimentos em serviços de prevenção e no tratamento de doenças mentais, neurológicas e de distúrbios associados ao uso de drogas e outras substâncias como álcool. Durante reunião do Conselho Nacional de Saúde (CNS), o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou os avanços obtidos no Brasil por meio da reforma psiquiátrica, instituída por lei em 2001. Segundo ele, a quantidade de procedimentos ambulatoriais em saúde mental passou de 423 mil em 2002, para 21 milhões em 2010.
A psicóloga e presidente da Fundação Gregório Baramblitt/Centro de Atenção Psicossocial CAPS Maria Boneca, Maria de Fátima Oliveira, reafirma que, assim como o ministro disse, não há uma epidemia de crack no Brasil, na verdade demorou-se muito tempo para estabelecer estratégias para solucionar o problema quando ainda era pequeno. “Como o SUS criou poucos CAPS AD, voltado ao tratamento de dependentes, e centros de convivência, por exemplo, para suprir essa demanda, ficou a impressão de que há mesmo uma epidemia, o que fez com que lançassem mão, de forma equivocada, de comunidades terapêuticas sem avaliá-las”, destaca.
Outro ponto lembrado pela psicóloga é o problema do álcool. “No Brasil existe um problema muito maior com o álcool do que com o crack, mas como o crack aparece como limite, já que vemos pessoas na rua parecendo zumbis - é o que mais assusta -, mas é um adoecimento como outro qualquer. Porém, há uma quantidade enorme de pessoas com alcoolismo, inclusive pessoas começando a beber muito jovens”, esclarece. Para Maria de Fátima, embora em Uberaba já existam CAPS estruturados, ainda falta avançar, por exemplo, na formulação de leis específicas para o trabalho de desintoxicação de alcoólatras.
A psicóloga alerta que a atuação do movimento antimanicomial continua na luta pela estruturação das comunidades terapêuticas voltadas ao tratamento humanizado da dependência química ou alcoólica, mas também chama a atenção para a falta de serviços voltados ao tratamento de crianças e adolescentes. “Se o dependente procura um serviço que não oferece retaguarda profissional e suporte médico, psicológico e social, ele pode até ir a óbito. É uma questão delicada, porque morrem mais pessoas por abstinência do que de overdose. O leito faz parte de um conjunto de estratégias e não se começa por ele”, frisa.