Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos, feito pela Unifesp, demonstra que pelo menos 28 milhões de pessoas no Brasil têm algum familiar que é dependente químico
Jairo Chagas
Júlio César Monteiro chama de dependência quando a falta da substância é percebida como um desprazer
Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família), feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgado em dezembro de 2013, demonstra que pelo menos 28 milhões de pessoas no Brasil têm algum familiar que é dependente químico. A partir desses resultados, os pesquisadores estimam que 5,7% dos brasileiros sejam dependentes de drogas, índice que representa mais de 8 milhões de pessoas no país.
De acordo com o psiquiatra Júlio César Monteiro, especialista no assunto, embora não seja um processo mecânico, o mecanismo do corpo humano explica o processo de dependência química. “Supõe-se que, a partir de uma alteração no funcionamento do nosso organismo, o corpo adapta-se ao estímulo de certa substância. Acredita-se que a experiência do uso traga resultados psicologicamente prazerosos, que tendem a se repetir. E chamamos de dependência a partir do momento que a falta desse estímulo é percebido como desvantajoso ou desprazeroso”, frisa.
No entanto, o psiquiatra destaca que cada pessoa tem experiências diferentes com o uso da mesma substância. “Há quem goste da experiência e quem não queira repeti-la. É bem conhecido o fato de a maioria das drogas, incluindo o álcool, necessitar ser administrada em doses cada vez maiores para ter o mesmo efeito causado pelo que chamamos de tolerância. Uma das características de qualquer dependência é justamente a perda desse ‘controle’. O que satisfazia a princípio já não satisfaz mais. Sabemos que substâncias que atingem o cérebro de maneira muito rápida são as que têm maior potencial para causar dependência. Assim, o crack, usado na forma inalada, tem um potencial maior para causar dependência que o álcool que é ingerido”, afirma.
Monteiro afirma que, mesmo o uso crônico do álcool, pode provocar uma série de alterações na saúde do indivíduo, o que indica a necessidade de tratamento em muitos casos. “De maneira geral, os prejuízos vão aparecendo ao longo dos anos. A princípio, percebemos prejuízos no funcionamento social do indivíduo, como dificuldades em manter compromissos, irritabilidade, dificuldades nos relacionamentos pessoais, perda na qualidade de vida, como insônia, falta de apetite e incapacidade para o trabalho, entre outros. Mais tarde, os efeitos do uso crônico do álcool levam ou podem piorar alterações orgânicas, como hipertensão arterial, diabetes, desmaios, problemas vasculares, entre outros. Ou seja, o corpo todo do indivíduo é acometido por doenças, podendo inclusive sofrer de grave desnutrição, em razão da incapacidade de cuidar de si”, alerta o psiquiatra Júlio César Monteiro.