Biomédica e doutora em Ciências, Thaís Farnesi esclarece que a imunização acontece mesmo quando a pessoa não apresenta nenhum tipo de reação adversa
Foto/Jairo Chagas
É mais comum apresentar reação adversa após a imunização com a AstraZeneca devido à forma como a vacina foi desenvolvida
O cronograma de vacinação em Uberaba tem avançado com agilidade e, por consequência, tem abrangido um público-alvo maior. Nos últimos dias, os imunizados têm compartilhado nas redes sociais as reações adversas da vacinação. Elas variam entre febre, dor de cabeça e no corpo, fadiga, calafrios, náuseas e inchaço ou hematoma no local da vacinação, o que acabou despertando dúvidas e até receio por parte da população. Afinal, é normal ter reação à imunização? A biomédica e doutora em ciências Thaís Farnesi de Assunção explica que reações adversas podem acontecer devido à vacinação. “O sistema imune é nosso exército de defesa. (Ao receber a vacina) está trabalhando e aprendendo a se proteger e a se defender”, afirma. Nesse sentido, é comum que aconteçam reações leves/moderadas, que podem durar até 72 horas. Porém, depende do organismo de cada pessoa a intensidade das reações. “O que a maioria das pessoas está apresentand dor de cabeça, um estado febril, dor no corpo, um mal-estar geral. Cada organismo tem sua forma de reagir a determinado estímulo, mas não significa que as pessoas que não tiveram reações adversas não estão imunizadas”, alerta Thaís. Inclusive, quem já teve a doença e, consequentemente, teve o sistema imunológico testado, pode ter reações também. Isso porque o organismo está lembrando que já teve contato com algo parecido. Como acontece a imunização Cada vacina é produzida de um jeito, com uma tecnologia que pode ser diferente da outra. Por isso, as vacinas são diferentes. Por exemplo, a CoronaVac utiliza o vírus da Covid-19 (Sars-CoV-2) inativado. Ou seja, ocorrem alterações naquele vírus de forma que fique só o esqueleto dele, contendo as principais proteínas para treinar o sistema imune, além de outros componentes. Apesar de poucos relatos, a pessoa imunizada pela CoronaVac pode ter ou não reações. Já a AstraZeneca utiliza outra plataforma, que é um vetor viral. Thaís Farnesi de Assunção explica que isso significa que outro vírus vai carregar um pedaço do Sars-CoV-2. O vetor viral é um “meio de transporte” de pedaços dos vírus, para que o organismo conheça, ou reconheça, e comece a treinar o sistema de imunização para lutar contra o vírus em questão, que no caso atual é o vírus da Covid. O vetor viral da vacina AstraZeneca é um adenovírus de chimpanzé modificado. “Para não causar resfriado, quando aplicada a vacina, esse adenovírus é atenuado. E aí, quando a vacina é administrada, o que acontece: o meu exército de defesa vai trabalhar para produzir anticorpos para aquele pedacinho que o adenovírus transportou”, explica a cientista. Thaís ainda esclarece que a vacina não é um mecanismo de cura da Covid-19, e sim uma ferramenta para controlar a circulação viral, reduzindo o número de casos, por consequên- cia. Portanto, quanto maior a cobertura vacinal, menor a circulação do vírus e menor as notificações de casos graves. “A vacina não impede de ter a doença, ela ajuda a não evoluir para gravidade”, informa. Thaís explica que a 2ª dose é fundamental para a imunização completa, ou a imunização com a 1ª dose será desperdiçada. “Com a 1ª dose, o corpo vai ser treinado a se defender. Só que podemos dizer que esse treinamento não é tão forte quanto precisa ser e precisa ser reforçado. Ele consegue produzir anticorpos e células de memória, que são as células que vão lembrar quando verem o vírus de verdade. No entanto, quando tomamos a segunda dose, é como se fosse um treinamento mais intensivo. Aí teremos produção de anticorpos e de células de memória de longo prazo, de vida longa, que vão durar no nosso corpo por muito mais tempo. Então, a vacinação só se torna eficaz quando completamos as doses indicadas pelo fabricante, que são as duas doses no caso da AstraZeneca, Pfizer e CoronaVac”, explica. Em Uberaba, mais de 2,5 mil pessoas estão faltosas com a 2ª dose da vacina da Covid-19, segundo informações passadas pela coordenadora da vacinação na cidade, Ana Vera Abdanur.