Psicólogo alerta para o efeito da volta às aulas presenciais em crianças e adolescentes

Após um ano e meio estudando à distância, em agosto crianças e adolescentes começam a voltar ao ambiente escolar de maneira presencial com mais frequência. O distanciamento pode ter, a princípio, gerado muita ansiedade e dificuldade de concentração na maioria das crianças, o que traz a necessidade de adaptação. Contudo, a volta ao ambiente presencial ainda é uma mudança e pode causar estranhamento e necessidade de uma readaptação por parte dos estudantes. Portanto, é preciso acompanhar esse desenvolvimento.

Segundo o psicólogo Rafael Silvério Borges, voltar à realidade do ambiente presencial pode gerar impactos como a intensificação de quadros de ansiedade, principalmente em razão da própria dificuldade de adaptação ao cotidiano das atividades escolares.

“Ao voltar ao presencial, é a volta de uma cobrança, de uma lógica diferente, permeada por algumas medidas sanitárias. Então, eu diria que crianças e adolescentes que desenvolveram algum quadro de ansiedade durante essa pandemia, podem intensificar esses quadros. Por isso, é importante que os professores estejam sensíveis a essas possibilidades. Pode ser que apareçam algumas dificuldades de concentração, algumas dificuldades relacionadas a comportamento. Provavelmente, podem surgir alguns episódios de estresse, de medo e fobia. Então, para isso, é importante que os educadores estejam bastante sensíveis, para poder perceber se essas crianças estão demonstrando alguns sintomas que tange a um humor deprimido”, explica Rafael.

Referente aos cuidados, Rafael explica que somente com o intercâmbio de informações entre a escola e as famílias é que se construirá uma readaptação sadia. “Os pais, observando algum sintoma, é importante entrar em contato com a escola, tentar fazer algum diálogo, para poder facilitar essa retomada do convívio e também das aulas presenciais. Acho que vai ter que ser um trabalho em conjunto para poder identificar e dar encaminhamento para algum tipo de cuidado que pode surgir em razão da pandemia. E esse trabalho precisa ser em equipe”, afirma o psicólogo.

É preciso lembrar também que estas crianças e adolescentes estiveram por muito tempo num ambiente em que as interações ocorrem de maneira diferente, que é o online, além de permanecerem mais de um ano isolados num ambiente familiar. Portanto, pode ocorrer que os hábitos do presencial tenham que ser reapresentados a essas crianças e adolescentes. Até porque os alunos ainda passarão por medidas sanitárias e precisarão se readequar ao cotidiano educacional.

“A tendência das crianças e adolescentes é de fazer recuperação espontânea do comportamento. É querer voltar a viver socialmente, querer brincar, correr, encostar, cair, jogar bola. Só que essas atividades provavelmente não poderão acontecer da mesma maneira pelo menos até que a situação e essa conjuntura melhore. Então, esses hábitos vão precisar ser bastante pensados, esclarecidos e orientados pela equipe do colégio, para que as crianças possam se adaptar mais uma vez a essa realidade que elas consideram normal, só que com algumas modificações”, esclarece Rafael.

Ainda segundo o psicólogo, as questões de dispersão, dificuldade de concentração e hiperatividade podem se intensificar em razão de mais uma mudança, mas não de forma generalizada. Até porque muitas crianças tiveram dificuldade de se concentrar e aderir à proposta da aula online. “Pode ser que esse retorno ao presencial seja quase um alívio e que facilite, para que essas questões sejam sanadas. Mas para essas crianças que demonstrarem algum grau de hiperatividade, de déficit de atenção, é importante trazer os pais para uma conversa. Orientar a talvez procurar uma orientação psicopedagógica. E os professores também. Pensar em algumas ferramentas, criar alguns grupos de apoio ou de reforço, para que essas crianças não fiquem desamparadas com a dificuldade de aprendizado”, finaliza.