Em um passado recente, o uso de drogas era associado a pessoas marginalizadas. Segundo o psiquiatra Júlio César Monteiro, isso acontecia porque a sociedade percebia nesses indivíduos características que eram o resultado do uso crônico de algumas drogas. “Para se ter ideia, havia a figura do ‘maconheiro’. Atualmente, o problema está tão generalizado, que não podemos atribuir a alguém, com segurança, as características individuais das pessoas que poderão envolver-se com o uso de drogas. Hoje, percebemos, por exemplo, o número crescente do envolvimento de mulheres com a drogadição. A situação é mais complexa se considerarmos drogas novas em um contexto social aberto à experimentação”, alerta.
O especialista destaca que, quando se fala em dependência química, cura é um termo muito radical. “Quando se trata de ‘desejo’, não há um remédio que possa modificá-lo, porém, para quem sofre dos sintomas da fase de abstinência, existem algumas condutas que podem trazer enorme alívio. Passada essa fase, é necessário que a pessoa esteja disposta a aceitar orientação psicológica adequada”, explica Monteiro.
Quando ocorre uma recaída, a frustração é geral. A família sente que meses ou anos de esforço conjunto foram perdidos. O dependente imagina que é o fim da linha e que nunca terá forças para se livrar da dependência. No entanto, a recaída pode fazer parte do processo de recuperação, por ser um momento de aprendizado e autoconhecimento. Para o psiquiatra Júlio César Monteiro, isso ocorre em razão de o uso de drogas estar diretamente relacionado a aspectos emocionais. “Em um processo de recuperação e ao longo da vida, é vantajoso entender que os problemas virão independentemente do quão preparados estaremos para resolvê-los. O uso de qualquer substância nunca foi solução. Não há como prevenir a maioria dos nossos problemas. Talvez possamos minimizá-los. Como sabemos que quem vive o problema da dependência química é susceptível a alterações emocionais desestruturantes, talvez a melhor opção seja o acompanhamento profissional especializado”, ressalta o especialista.