Cientistas nos EUA criaram uma maneira de acabar com a dificuldade quase medieval que envolve o emprego das vacinas contra a gripe. Trata-se de uma vacinação capaz de proteger o organismo de uma ampla variedade de vírus da doença. A estratégia, que depende de uma dobradinha de imunizações, capaz de estimular diferentes partes do sistema de defesa do organismo, foi detalhada na edição digital da revista especializada Science. Testes de sucesso foram feitos em camundongos, furões e macacos. Se a ideia funcionar em humanos, "saímos do jogo de gato e rato. Hoje produzimos vacinas contra vírus que já circulam e fazemos monitoramento para saber se a vacina ainda funciona - com a certeza de que uma hora ela não vai funcionar", diz o biólogo Atila Iamarino, da USP. Até hoje, a dificuldade de obter uma vacina "genérica" contra muitos tipos de gripe atende pelo nome de hemaglutinina. Essa proteína permite que o vírus grude nas células humanas e as invada. O problema é que há pelo menos 16 tipos de hemaglutinina. Assim, quando o sistema de defesa do organismo "aprende" a se defender de uma, ainda não sabe lidar com as demais. O mesmo vale para as vacinas, cujo papel é ensinar o corpo a se defender. Cada uma delas vem de vírus cultivados em ovos de galinha e depois inativados, o que é um processo lento, lembra Luís Carlos de Souza Ferreira, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas da USP. Mas há um elemento da hemaglutinina que muda bem menos de vírus para vírus: o "miolo" da proteína, que fica afundado dentro do invasor e não interage diretamente com as células. O líder do novo estudo, Gary Nabel, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, diz que esse pode ser o calcanhar-de-aquiles da gripe.