ESTUDO

Briga com a obesidade: estudo indica crescimento de pessoas com a doença no Brasil

Especialistas avaliam ser necessário tratar a situação como problema de saúde pública

Jonatas Pacheco/O Tempo
Publicado em 21/03/2025 às 10:07
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A doença chegou silenciosa para Natália Gomes, de 37 anos. Em 2018, ela teve uma grande reviravolta em sua vida. Mudou-se com o marido de Belo Horizonte para Lagoa Santa, na região metropolitana. Trocou de profissão. E passou a conviver com a ansiedade. “Em um mês ganhei 2 kg. No outro, mais 3 kg. Quando me dei conta, no fim do ano estava com 20 kg a mais”, lembra. Nos anos seguintes, a terapeuta, que tem 1,67 m de altura, continuou a ganhar peso, passando dos 68 kg para os atuais 100 kg, sendo, então, diagnosticada com obesidade.

“Eu só liguei o alerta quando tive frustrações na minha vida, como dificuldades para calçar sapatos, cruzar a perna, subir escadas, roupas grandes que não cabiam em mim”, afirma Natália. Há um mês, ela começou um tratamento para perder peso.

E, além de mudanças na alimentação e na rotina de atividades, foi necessário o uso de medicamentos para auxiliar no emagrecimento. E essa mudança se faz necessária para um número cada vez maior de brasileiros, como aponta o Atlas Mundial da Obesidade de 2025. Divulgado no início deste mês, o levantamento indica que 68% da população adulta do Brasil – cerca de 106,7 milhões de pessoas – apresenta Índice de Massa Corporal acima do considerado saudável, sendo que 31% delas – ou seja, um de cada três que estão acima do peso – está na faixa da obesidade. Em números absolutos, isso significa que cerca de 33 milhões de brasileiros adultos são obesos.

O problema é que segundo o estudo, o número de pessoas com sobrepeso está crescendo. A projeção é que, em 2030, ele chegue a 119,6 milhões de pessoas, representando 72% da população adulta projetada no país, que segundo o IBGE, será de 163,9 milhões. São pessoas que, como explica a médica pós-graduada em endocrinologia e nutrologia Eliana Teixeira, têm mais chances de desenvolver doenças cardíacas e cânceres.

“Uma das explicações está nas mudanças no estilo de vida e hábitos alimentares. A alimentação contemporânea é marcada pelo alto consumo de ultraprocessados, ricos em açúcares, gorduras e sódio, que são mais acessíveis financeiramente e práticos para o dia a dia. Além disso, a rotina da sociedade moderna tem favorecido o sedentarismo, com longos períodos de inatividade e pouca prática de exercícios físicos”, diz a especialista.

Conforme Eliana, a obesidade também pode ter origem em questões hormonais e psicológicas dos pacientes, que devem ser avaliados caso a caso para a escolha do melhor tratamento. Natália, por exemplo, entende que uma série de fatores foi o estopim para desencadear sua obesidade. “Pouco antes da pandemia de Covid-19, em 2018, quando vivi esta grande mudança na vida, eu acabei priorizando muito a saúde mental, deixando de lado a física. Não entendia que as duas deviam andar juntas. E a comida sempre foi meu refúgio, minha válvula de escape para ansiedades. Também passei por um abuso quando era criança. Imaginei que, se eu ficasse gorda, não sofreria aquilo novamente”, lembra.

Natália conta que tentou diversos tipos de tratamento, desde mudança na alimentação até medicamentos, até que em fevereiro o nutrólogo que a atende optou por um novo tratamento. “Agora faço pequenas metas que se adéquam à minha realidade. Já perdi 5 kg em três semanas. Meu objetivo daqui a seis meses é estar feliz comigo mesma”, destaca.

É necessário cuidar da mente

Um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da obesidade é o aspecto psicológico. E foi isso que aconteceu com Ana Luiza Lima, estudante de 21 anos. Ela chegou a pesar 156 kg e teve o diagnóstico em 2021, mas os problemas começaram bem antes.

“Sempre fui uma criança mais gordinha, só que não era obesa. Mas, quando eu tinha 12 anos, me lembro das pessoas me julgando, falando que eu precisava emagrecer. Aquilo foi me dando ansiedade, nervosismo, e a comida foi minha fuga”, conta.

Hoje, Ana está com 144 kg e faz atividade física na academia, mas a jovem diz que demorou a se cuidar. “Cresci ouvindo médicos falarem sobre como a obesidade poderia me afetar, mas só tive iniciativa quando percebi que não conseguia fazer coisas básicas, como caminhar e não cansar. As pessoas são muito duras com quem é obeso e isso só atrapalha.”

Neuropsicóloga, Janusa Silvério explica que, como muitas pessoas têm sofrimentos psicológicos, acabam buscando na comida um prazer, ainda que temporário. Segundo ela, a comida estimula a liberação de neurotransmissores, como a dopamina, que geram sensação de prazer.

Janusa pontua ainda que o acompanhamento psicológico é fundamental no tratamento da obesidade. “A psicoterapia pode auxiliar o paciente a desenvolver estratégias mais saudáveis para lidar com o estresse e a ansiedade, reduzindo o uso da comida como mecanismo de compensação emocional.”

Mortes prematuras

O sobrepeso e a obesidade representam riscos para a saúde. Segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025, 60.913 mortes prematuras no país podem ser atribuídas a doenças crônicas não transmissíveis, relacionadas a sobrepeso e a obesidade, tais como diabetes tipo 2 e Acidente Vascular Cerebral (AVC). A informação é baseada em dados de 2021.

Saúde pública

Para Rafael Fantin, endocrinologista e metabologista, a obesidade não pode ser tratada apenas como um problema individual. A doença precisa ser vista como caso de saúde pública. “Como orientar alguém a comer de forma saudável se ela come o que tem, na hora que tem? Como pedir para que trabalhe menos e durma nos horários adequados se precisa garantir a sobrevivência da família? Precisamos de políticas públicas, como ensinar desde cedo o que é uma alimentação saudável nas escolas, e criação e manutenção de espaços públicos adequados para prática esportiva”, destaca.

Fonte: O Tempo

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