O Dia do Folclore, celebrado em 22 de agosto, convida-nos a mergulhar nas raízes profundas da nossa identidade cultural. Nessa data especial, é crucial refletirmos sobre o significado da capoeira e a importância de preservar e valorizar nossas tradições populares.
A capoeira, além de uma forma de expressão, é um testemunho vivo da resistência e do espírito do povo brasileiro. No entanto, usar o termo “folclore” para descrevê-la pode minimizar sua grandiosidade. Esse termo, infelizmente, carrega consigo estereótipos que não fazem justiça à complexidade e riqueza da capoeira. Recentemente, um episódio chocante reacendeu a necessidade de protegermos e honrarmos nossa herança cultural.
No dia 11 de agosto, capoeiristas do Centro Cultural de Capoeira Águia Branca, no Bairro Fabrício, em Uberaba, foram alvo de um ato de racismo que deixou a todos indignados. Cascas de bananas foram atiradas contra o centro, durante o ensaio para uma apresentação teatral, atingindo inclusive crianças que participavam do ensaio. A Mestra “Puma” Núbia Nogueira, responsável pelo centro, registrou o episódio e um Boletim de Ocorrência foi registrado na Polícia Militar (PM). A ação, além de agressiva, revela a persistência do racismo estrutural em nossa sociedade.
Nesse contexto, é vital repudiarmos veementemente atos de racismo e intolerância. Personalidades, entidades e defensores dos direitos humanos se manifestaram contra esse ataque atroz, destacando a urgência de enfrentar o preconceito enraizado. A capoeira é um símbolo do nosso passado de luta e superação, sendo reconhecida internacionalmente como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2014.
O racismo é uma ferida que persiste, e o ataque à capoeira é um lembrete doloroso de que ainda temos muito a avançar. O Dia do Folclore nos convoca não apenas a celebrar nossas tradições, mas também a questionar as injustiças que persistem. É um chamado para a ação, para valorizarmos a diversidade e a riqueza da nossa cultura, e para assegurarmos que episódios como esse não se repitam.
A capoeira é mais do que um passatempo; é uma forma de resistência, uma celebração da cultura afro-brasileira e uma voz que clama por igualdade. Ela não será silenciada por atos de ódio. Devemos usar nossa voz para denunciar o racismo, proteger nossas tradições e construir um futuro mais inclusivo.
No Dia do Folclore, que a capoeira e todas as expressões culturais sejam celebradas e respeitadas. Vamos nos unir em prol da diversidade, do respeito e da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A capoeira é nossa herança, nossa história e nosso grito por igualdade. Ela transcende o folclore, é a voz do povo e é um reflexo da alma do Brasil.
Vinícius Prado Almeida
Professor e historiador