O Jornal da Manhã dá sequência ao especial em homenagem ao Agosto Caramelo, destacando histórias de cães das forças de segurança de Uberaba que se tornaram parceiros essenciais na proteção e salvamento de vidas. Após a reportagem sobre os cães da Polícia Militar, a série se volta agora ao 6º Pelotão de Busca, Resgate e Salvamento com Cães do 8° Batalhão de Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, em Uberaba, tendo alguns atuado, inclusive, em tragédias de grandes proporções, como a que assolou Brumadinho. A relação da humanidade com os cães tem milhares de anos, mas, hoje, dentro das forças de segurança, ela atinge um patamar nobre: salvar vidas.
O vínculo entre humanos e cães começou como cooperação prática e, ao longo do tempo, se transformou em relação de confiança e parceria. No canil do Corpo de Bombeiros de Uberaba, instalado no Centro de Treinamento na Univerdecidade, essa história se concretiza diariamente. A rotina inclui limpeza dos boxes, treinos diários com intensidade variável, socialização, ambientação a diferentes barulhos e locais, obediência e acompanhamento veterinário. O canil atende toda a área do 2º Comando Operacional de Bombeiros, abrangendo o Triângulo Sul, Triângulo Norte, Alto Paranaíba e Noroeste. Dentre as cidades dessas regiões, destacam-se: Uberlândia, Uberaba, Araguari, Patos de Minas, Patrocínio, Unaí, Paracatu, Frutal, Iturama, Carmo do Paranaíba, São Gotardo e João Pinheiro. A equipe já foi empregada em grandes e complexas operações de resgate, incluindo deslocamentos para outras regiões do país, com experiências em ocorrências como o rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho e nas tragédias no Rio Grande do Sul.
O trabalho é feito em sistema de binômio: cada cão tem um condutor, garantindo vínculo, confiança e melhor desempenho nas buscas. “Nosso serviço precisa muito desse vínculo, pela forma como a gente conduz os trabalhos, do jeito que são feitas as buscas. Aí, é bom ter um vínculo grande”, explicou o Sargento BM Raphael Crozara.
Entre os cães do pelotão, há histórias e funções distintas. A cadela Heley, uma bloodhound de 5 anos, teve seu nome escolhido em um concurso e foi batizada em homenagem à professora Heley de Abreu Silva Batista, que deu a própria vida para salvar crianças durante o massacre na creche Gente Inocente, em Janaúba (MG) em 2017. Inicialmente treinada pelo Cabo BM Gilberto Menezes, hoje está sob os cuidados do Cabo BM Guilherme Afonso. Especializada em odor específico, Heley identifica uma pessoa a partir de um artigo com seu cheiro, mesmo em meio a outras. Cães da raça bloodhound são mundialmente reconhecidos pelo faro extraordinário.
A cadela Cheise, uma pastor-alemão de 10 anos, é um verdadeiro símbolo de bravura e dedicação no Corpo de Bombeiros de Uberaba. Mesmo com a idade avançada para um cão de resgate, ela segue ativa, demonstrando uma impressionante vitalidade e espírito de missão. Uma das pioneiras do canil da cidade, chegou por doação do Espírito Santo quando a unidade ainda dava seus primeiros passos, tornando-se peça fundamental na construção do trabalho com cães de busca na região.
Com um currículo heroico, Cheise atuou em algumas das maiores tragédias do país, como o rompimento da barragem de Mariana, em 2015, e a catástrofe de Brumadinho, em 2019, onde ajudou a localizar vítimas e ofereceu esperança em meio ao caos. Seu faro apurado e disciplina exemplar fizeram dela referência entre os bombeiros. Recentemente, mesmo aos 10 anos, participou ativamente de uma operação de busca por um jovem desaparecido em uma mata em Uberaba, conduzida pelo Soldado BM Rafael Barbosa, reforçando que, apesar do tempo, sua dedicação à vida humana permanece inabalável. Mais do que uma cadela de trabalho, Cheise é um exemplo de lealdade, coragem e serviço à sociedade.
Agnes, uma pastor-belga Malinois de 9 anos, conduzida pelo Cabo BM Geovane Arduini é outra veterana respeitada do canil dos Bombeiros de Uberaba. Com uma trajetória marcada por coragem e excelência, ela se destacou em missões de grande complexidade, como os resgates nas tragédias de Brumadinho e, mais recentemente, nos desastres no Rio Grande do Sul, em 2023 e 2024.
Sua impressionante resistência física, aliada a uma energia incansável, torna Agnes uma especialista em varreduras e buscas minuciosas, especialmente em terrenos desafiadores. De acordo com o Sargento BM Crozara, trata-se de um animal extremamente equilibrado, com fôlego invejável para missões prolongadas. “Ela tem uma energia muito alta e resistência impressionante. É um cão extremamente eficaz para o nosso trabalho em campo”, afirma o militar. Com seu olhar atento e postura firme, Agnes representa a combinação ideal entre instinto, preparo e determinação, qualidades que fazem dela uma verdadeira referência no trabalho de salvamento e um orgulho para toda a corporação.
Xamã é o caçula do canil, um bloodhound conduzido pelo Cabo BM Gilberto Menezes. Com apenas 1 ano e 2 meses, ainda está em treinamento e não participou de missões reais. Assim como Heley, seu foco é o rastreamento por odor específico. Ele chegou ao canil com apenas 54 dias, proveniente de um criatório de referência, e desde cedo foi socializado em diversos ambientes para perder o medo e se adaptar melhor às futuras atividades.
Também em formação, Santo é um pastor-alemão de pelagem preta, conduzido pelo Sargento BM Crozara. Com cerca de 2 anos e meio, está sendo preparado para atuar em buscas por varredura, tanto de pessoas vivas quanto de remanescentes mortais em áreas urbanas, rurais e estruturas colapsadas. Até o momento, não participou de ocorrências reais, pois o treinamento e a certificação são prioridade.
Anjo, irmão de Santo, também é pastor-alemão e segue a mesma linha de trabalho de varredura é conduzido pelo Sargento BM Antônio G. Oliveira. Com idade aproximada de 2 anos e meio, ainda está em treinamento, mas já demonstra grande afinidade com o condutor, respondendo muito bem ao carinho e às recompensas, o que facilita a transição do instinto de caça para a busca direcionada por pessoas.
Flecha, uma pastor-belga Malinois de 1 ano e meio, igualmente integra o plantel em formação. Está em fase de socialização, ambientação e obediência, etapas fundamentais antes das certificações e do emprego efetivo em ocorrências. Sua futura atuação será também em buscas por varredura, de pessoas vivas e remanescentes mortais. Nesta semana, Flecha junto de seu condutor Cabo BM Cristiano Couto, acompanhou a operação na mata como “estagiária” da experiente Cheise.
O trabalho desses cães vai muito além do treinamento e das certificações: eles são companheiros, amigos e heróis silenciosos que, lado a lado com seus condutores, transformam conhecimento, disciplina e vínculo em esperança e vidas salvas. No pelotão de Uberaba, cada missão concluída reforça a importância dessa parceria única entre humanos e cães, lembrando que, desde os primórdios da convivência, esses animais seguem desempenhando um papel insubstituível na sociedade.