ORGULHO DA TERRA

Aluno indígena viaja quase 1.000 km para ser campeão em Uberaba durante JEMG

Marconi Lima
Publicado em 04/08/2023 às 17:26
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O atleta é único, entre os mais de 6 mil que estão na competição em Uberaba (Foto/Marconi Lima)

 "Para o alto", "subir". É o significado, na língua denominada Borun, o nome do atleta Terrut Krenák, da Escola Municipal José Clemente da Silva, em Resplendor (MG), no Vale do Rio Doce. Ele está em Uberaba para a disputa dos Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG), Etapa Estadual.

E foi no alto que ele chegou, ao vencer na sexta-feira (4) uma das provas dos 200 metros livres, no atletismo. Ele ainda alcançou o 3º melhor tempo geral nos 80 metros livres. O atleta é único, entre os mais de 6 mil que estão na competição em Uberaba, que é indígena.

Os Krenák ou Borun constituem-se nos últimos Botocudos do Leste, nome atribuído pelos portugueses no final do século XVIII aos grupos que usavam botoques auriculares e labiais. São conhecidos também por Aimorés, denominação dada pelos Tupí, e por Grén ou Krén, sua auto-denominação. O nome Krenák é o do líder do grupo que comandou a cisão dos Gutkrák do rio Pancas, no Espírito Santo, no início do século XX. Localizaram-se, naquele momento, na margem esquerda do rio Doce, em Minas Gerais, entre as cidades de Resplendor e Conselheiro Pena, onde estão até hoje, numa reserva de quatro mil hectares criada pelo SPI, que ali concentrou, no fim da década de 20, outros grupos Botocudos do rio Doce: os Pojixá, Nakre-ehé, Miñajirum, Jiporók e Gutkrák, sendo este o grupo do qual os Krenák haviam se separado.

Os Krenák pertencem ao grupo linguístico Macro-Jê, falando uma língua denominada Borun. Apenas as mulheres com mais de quarenta anos são bilíngues, enquanto os homens, jovens e crianças de ambos os sexos são falantes do português. Nos últimos três anos vêm envidando esforços para que as crianças voltem a falar o Borun.

De comportamento tímido, Terrut disse que pela primeira vez estava disputando provas de atletismo. E, para um principiante, alcançando resultados significativos. "Eu jogava futebol. Até que me viram correndo e avaliaram que eu poderia disputar as provas", disse um ofegante Terrut, poucos momentos após vencer a prova dos 200 metros.

Disse que achou Uberaba um local diferente de Resplendor. Gostou muito da cidade do Triângulo Mineiro, especialmente, pela receptividade.

Responsável pela delegação de Resplendor, Rodrigo Brun, destacou que descobriu o talento de Terrut para as provas de velocidade no atletismo, observando-o nos jogos de futebol.

"Tínhamos tentado trazê-lo a mais tempo para o atletismo. A professora dele (de Educação Física), Ariedne Barros, nos ajudou. Em uma brincadeira, colocamos o Terrut para disputar uma corrida com outros alunos e percebemos que ele era muito rápido. Outros também se destacaram, mas não puderam vir", lembrou Brun.

Ele reforçou que na Escola Municipal José Clemente da Silva, outros talentos para o esporte também são observados. "É uma escola que possui mais de 80% de seus alunos, que são indígenas. E lá também, revelamos talento para o paradesporto", frisou Rodrigo Brun.

Pelo segundo ano seguido, Uberaba recebe a etapa estadual do Jemg, um evento organizado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese-MG) em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (SEE) e que conta com a execução técnica da Federação de Esportes Estudantis de Minas Gerais (Feemg).

Durante os dias do evento, serão disputadas 17 modalidades: atletismo, badminton, basquetebol, ciclismo, futsal, ginástica artística, ginástica rítmica, handebol, judô, karatê, luta olímpica, natação, taekwondo, tênis de mesa, voleibol, vôlei de praia e xadrez.

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