
Embora parte da perda diária seja natural, crenças populares continuam se espalhando e confundindo quem busca entender a própria saúde capilar (Foto/Reprodução)
A queda de cabelo é um dos problemas estéticos e de saúde mais frequentes entre os brasileiros, afetando milhões de pessoas e alimentando uma série de dúvidas sobre o que realmente prejudica os fios. Embora parte da perda diária seja natural, crenças populares continuam se espalhando e confundindo quem busca entender a própria saúde capilar. Em entrevista à Rádio JM, a médica Luiz Sampaio, tricologista e especialista em transplante capilar, disse que maioria das crenças populares não tem fundamento científico e reforçou que a calvície, quando existe, geralmente está ligada a fatores internos, como genética e hormônios, e não a hábitos cotidianos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a queda de 50 a 100 fios por dia está dentro da normalidade, mas o quadro exige atenção quando há falhas, descamação, coceira ou perda intensa. Estima-se que mais de 42 milhões de brasileiros convivam com algum tipo de alopecia. Além disso, estudos mostram que 80% dos homens acima dos 80 anos têm calvície e que até 30% das mulheres acima dos 50 apresentam afinamento dos fios, especialmente por predisposição genética. Alterações hormonais, estresse severo, deficiência nutricional, químicas agressivas e penteados muito apertados podem contribuir, mas a avaliação médica é essencial quando a queda foge do padrão habitual.
Confira os principais mitos e verdades apontados pela especialista sobre queda e cuidados com os fios:
Lavar o cabelo todos os dias causa queda? Mito.
Sampaio foi enfática ao afirmar que lavar o cabelo diariamente não provoca queda. A especialista reforça que a calvície feminina (alopecia androgenética) é genética e hormonal, e não tem relação com frequência de lavagem. “A predisposição à calvície não é adquirida. Você nasce com isso. E a questão da lavagem dos cabelos não interfere em nada”, garante.
Cortar as pontas ajuda o cabelo a crescer? Mito.
Outro mito popular é o de que cortar as pontas acelera o crescimento. “O cabelo é um tecido morto. Depois que ele sai do couro cabeludo, nada do que fazemos no comprimento interfere no crescimento”, explicou. Ainda assim, ela recomenda o corte regular para manter a aparência saudável dos fios.
Fases da lua influenciam o crescimento? Um mito inofensivo.
Cientificamente, nenhuma fase lunar interfere no crescimento capilar, mas Sampaio reconhece que crenças e rituais podem impactar a forma como a pessoa se sente em relação ao próprio cabelo. “Se te faz bem, corte na lua que preferir. O emocional influencia até na percepção do cabelo”, afirma.
Usar boné, chapéu ou capacete provoca calvície? Mito, com exceções.
O uso de acessórios não causa calvície. “O único problema é para quem tem doenças inflamatórias, como caspa ou dermatite seborreica, porque o abafamento pode piorar a inflamação”, disse. Já o uso extremo de acessórios apertados, ou penteados muito tensos, pode levar à alopecia de tração, como ocorre em profissões que exigem cabelos sempre presos.
Sol, fricção e fatores externos causam queda? Em geral, mito.
Para a médica, fatores externos raramente provocam calvície. “As doenças que levam à queda vêm de dentro para fora”, explicou. Casos de atrito extremo — como permanecer com capacete o dia inteiro — podem causar falhas localizadas, mas são exceções.
Caspa pode causar queda? Verdade.
A caspa, quando intensa e inflamatória, pode sim levar à queda dos fios. O tratamento adequado resolve o problema. Sampaio elogiou os shampoos anticaspa: “São ótimos, especialmente para quem tem couro cabeludo oleoso”, disse.
Oleosidade provoca queda? Mito.
A oleosidade não causa queda, mas traz incômodo estético. Quem tem couro cabeludo oleoso deve lavar todos os dias, desde que utilize o shampoo adequado. “Cabelo saudável é cabelo limpo”, reforçou.
Alimentação interfere no cabelo? Indiretamente, sim.
Não há evidências de que alimentos gordurosos ou menos saudáveis causem calvície. Porém, uma nutrição pobre pode afetar o cabelo, porque o corpo prioriza funções vitais. “O cabelo é sempre deixado por último quando faltam nutrientes”, explicou.
Estresse causa queda? Em casos intensos, sim.
O estresse cotidiano não provoca calvície. Mas situações extremas, como traumas pessoais, podem desorganizar o organismo e gerar queda temporária. “Estresse do dia a dia, correria, cansaço, isso não é capaz de fazer você perder cabelo. Já no caso de muitos traumas, como financeiro, uma questão familiar, ou envolvendo doença, isso pode desorganizar o organismo e refletir no cabelo”.
Uso de anabolizantes, problemas metabólicos ou reposição hormonal provocam queda? Verdade.
Problemas hormonais podem, sim, desencadear queda capilar. No pós-parto, por exemplo, a redução brusca dos hormônios e o impacto metabólico tornam a queda bastante comum. O uso de anabolizantes e de hormônios para ganho de massa muscular também pode acelerar o afinamento dos fios, sobretudo em pessoas com predisposição genética. Sampaio acrescenta que há pacientes que dependem de reposição hormonal por motivos de saúde e, nesses casos, é possível controlar a queda, embora os resultados costumem ser mais limitados.
Transplante capilar “cura” calvície? Mito.
O transplante “tapa buracos”, mas não impede que o cabelo geneticamente suscetível continue afinando. “Se não tratar o restante do cabelo, em três ou quatro anos a área volta a ficar rala”, explicou. Por isso, todo paciente transplantado precisa de acompanhamento contínuo.