Especialistas destacam que o momento exige atenção redobrada de pais, educadores e sociedade (Foto/Divulgação)
O Setembro Amarelo, mês de conscientização sobre prevenção do suicídio, acende também um alerta sobre a saúde mental de crianças e adolescentes em meio à vida digital. Pesquisas apontam que o isolamento social imposto pela pandemia e o aumento do tempo de tela tiveram impacto direto no desenvolvimento emocional e social dos jovens, provocando ansiedade, baixa autoestima e dificuldades de relacionamento. Especialistas destacam que o momento exige atenção redobrada de pais, educadores e sociedade.
Para o psicólogo Sérgio Marçal, o uso excessivo de telas afeta de maneira significativa a primeira infância e o desenvolvimento posterior. “Se a criança deixa de brincar, desenvolver a capacidade simbólica, explorar o ambiente ou desenvolver sua coordenação motora, ela tende a ter dificuldades na escolarização, na construção da própria caligrafia, da imaginação e da criatividade. Além disso, há empobrecimento do relacionamento social e da noção de regras e limites, essenciais para interações saudáveis”, explica.
O especialista alerta ainda para a compulsão gerada pelas telas. Segundo ele, os aparelhos eletrônicos liberam neurotransmissores ligados ao prazer, fazendo com que crianças e adolescentes busquem cada vez mais tempo conectados e deixem de lado outras atividades. Essa exposição pode levar a ansiedade, irritabilidade e intolerância à frustração. Marçal destaca que sinais como queda no rendimento escolar, isolamento social e dependência da tecnologia devem acender o alerta em pais e responsáveis.
Violência virtual e isolamento social
O bullying virtual é outro fator preocupante. Comentários negativos e situações de violência online podem afetar profundamente a autoestima e a mente das crianças. “Toda violência pode gerar trauma e estresse pós-traumático. A autoestima fica rebaixada, a pessoa passa a acreditar que tem menos valor que os demais e pode incorporar isso à sua personalidade, com baixa autoeficácia e dificuldades emocionais”, detalha o psicólogo.
O 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelou que quase 40% das escolas do país já registraram casos de cyberbullying, sendo Minas Gerais o segundo estado com mais ocorrências, afetando 2.158 instituições, atrás apenas de São Paulo. Especialistas alertam que, além dos impactos imediatos na autoestima, situações de intimidação podem deixar marcas emocionais profundas, agravadas quando se estendem para o ambiente digital.
O impacto do isolamento social durante a pandemia também deixou marcas, já que também está diretamente ligado ao tempo ocioso e, por consequência, a uma maior utilização dos aparelhos digitais e redes sociais. Dados de organizações de saúde mental apontam aumento significativo de casos de ansiedade e depressão entre jovens, com sintomas como tristeza prolongada, alterações de sono e alimentação, irritabilidade e isolamento.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia de Covid-19 elevou em 25% os casos de ansiedade e depressão no mundo. No Brasil, pesquisa da USP apontou que uma em cada quatro crianças e adolescentes apresentou sinais dessas doenças durante o isolamento. O uso excessivo de redes sociais também aumenta em até 13% o risco de sintomas depressivos a cada hora adicional de exposição, impactando sono e rotina escolar. Por isso, o psicólogo reforça a importância do diálogo aberto entre pais, professores e filhos para identificar precocemente o sofrimento emocional.
“É preciso criar espaços seguros para que os jovens expressem sentimentos e emoções”, orienta Marçal. Estratégias simples, como atividades digitais educativas, exercícios físicos e momentos de lazer em família, ajudam a equilibrar o tempo de tela e a desenvolver habilidades sociais e emocionais. Ele recomenda ainda que os adolescentes aprendam a lidar com pressões escolares, comparações nas redes e expectativas familiares de forma saudável.
Em Uberaba, serviços de apoio a crianças e adolescentes, como psicólogos em escolas e centros de atenção psicossocial, como o CAPSi (Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil) estão disponíveis para acolher jovens em sofrimento emocional. Segundo Marçal, a prevenção não deve se restringir ao Setembro Amarelo, pois falar sobre saúde mental e prevenção do suicídio é uma necessidade constante. O cuidado deve ser diário, e o apoio profissional é essencial sempre que sinais de sofrimento aparecem.