“NO MEU BAIRRO, JÁ ME ESPANCARAM”

Miss Trans Uberaba busca apoio para abertura de ONG para acolhimento LGBT+

Fernanda Dominique vive na pele o preconceito e a violência e é por isso que pretende reforçar o acolhimento da população LGBT+ em Uberaba

Rafaella Massa
Publicado em 23/08/2023 às 11:41Atualizado em 23/08/2023 às 13:36
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Fernanda Dominique atual Miss Trans Uberaba. (Foto/Divulgação)

Fernanda Dominique atual Miss Trans Uberaba. (Foto/Divulgação)

Quem vê a Fernanda Dominick hoje, com sua resiliência e sociabilidade, enxerga apenas um vislumbre da história de superação. Em sua trajetória, a jovem precisou lidar com preconceito, violência e a rejeição, que chegaram a levá-la à depressão. No entanto, a sua volta por cima levou ao caminho do seu sonho de ser a da atual Miss Trans Uberaba e poder representar sua cidade. Ao Jornal da Manhã, Fernanda conta que sua vivência fez brotar a vontade de ajudar ao próximo e, por isso, busca abrir sua própria ONG (Organização Não-Governamental) voltada ao público LGBTQIAPN+.  

A história de Fernanda na comunidade LGBTQIAPN+ começou aos 7 anos de idade. A Miss conta que desde àquela época percebia que gostava de coisas diferentes, mais femininas, mas não via malícia em suas preferências.  

“Eu gostava de roupas femininas, uma vez na escola eu pedi para o Papai Noel uma Barbie, que na verdade, essa cartinha foi para os meus pais e eles me criticaram por isso. Eu andava com as roupas da minha irmã. Uma vez a minha irmã me agrediu porque ela fazia dança do ventre e eu coloquei a roupa de dança do ventre dela. E para mim estava tudo normal. Eu achei bonito e usei. Ao longo do tempo, eu tive interesse em meninos e etc. Só que eu achava estranho pelo fato de eu ter nascido no corpo masculino”, conta.  

Aos 12 anos, Fernanda conta que diversificou o círculo social por meio de amizades, o que a possibilitou a conhecer realidades diferentes, inclusive no meio LGBT+. Aos 13 compreendeu ser uma menina trans e contou a família, notícia que não foi bem recebida pela mãe, que a expulsou de casa. 

“A minha mãe custou a entender, ela só passou a me entender como uma mulher transsexual depois que o meu irmão, filho preferido dela, se assumiu como bissexual. Aí, através da aceitação com ele, ela me aceitou. Mas, eu a amo, mãe é mãe, mãe é uma só e respeito muito ela”, relata Fernanda. 

No entanto, a transição para o sexo feminino não foi um momento fácil. As agressões físicas e psicológicas adoeceram Fernanda, que precisou procurar ajuda. “E já sofri preconceito no bairro, já me bateram, já me espancaram. Entrei em depressão nessa época, cortei o cabelo, deixei de ser trans, voltei a seguir o gênero que eu nasci, tentei suicídio quatro vezes. E depois eu parei para pensar ‘Eu tenho que ser quem eu sou, não quem os outros querem que eu seja’”, relembra. 

No ano passado, Fernanda acabou ferida ao tentar defender uma mulher transsexual que estava sendo agredida na saída de uma boate, em Uberaba. O episódio foi um gatilho para traumas que foram superados por meio de ajuda médica. “Eu tive ansiedade, tive crise de depressão, crise de pânico. Então, eu tive que fazer tratamento com psicólogo e psiquiatra. Nós, mulheres transexuais, passamos por coisas na vida que eu vou te falar... É por isso que a nossa faixa etária de vida é até os 35 anos, porque é muito difícil a vida de uma mulher transexual, muito difícil mesmo”, pontua. 

Fernanda relata ao JM que por suas próprias experiências com o preconceito, seu principal objetivo é lutar contra a transfobia e melhorar a qualidade de vida de pessoas trans, por meio da informação e do acolhimento. Para isso, articula junto com duas advogadas a possibilidade de abertura da ONG. No entanto, a Miss pede que o apoio da sociedade.  

“Eu pensei em criar uma ONG justamente para ajudar as pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, para não passarem pelo que eu passei, mostrar pra eles que eles têm ajuda, que eles podem sim denunciar, que vamos estar ali para ajudar. A maioria da população LGBTQIAPN+ não sabe nem o terço do direito que nós temos. Principalmente, em relação à discriminação nos hospitais, nos órgãos públicos, que eles às vezes falam que não pode colocar o nome para evitar constrangimento na hora da chamada e isso é um direito novo. A gente tem o direito disso e várias outras coisas”, finaliza. 

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