(Foto/Ilustrativa)
A morte da cantora Preta Gil, neste domingo (20), aos 50 anos, em decorrência de um câncer colorretal, chamou a atenção para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença. Em entrevista ao Jornal da Manhã, a médica oncologista doutora Jane Godoi explicou que esse tipo de câncer está entre os que mais atingem homens e mulheres a partir dos 50 anos e pode ter diferentes causas — desde histórico familiar até estilo de vida.
“O câncer colorretal está entre os principais tipos de câncer que acometem tanto homens quanto mulheres acima de 50 anos. Por ser uma doença com causas multifatoriais, devemos nos ater à história pessoal e familiar deste paciente, obesidade, sedentarismo, doenças inflamatórias do intestino como a retocolite ulcerativa, doenças hereditárias como a polipose adenomatosa familiar, o câncer colorretal hereditário sem pólipos e outras síndromes genéticas relacionadas. História pessoal de câncer de ovário e de mama, tabagismo, dieta pobre em fibras e constipação intestinal crônica”, explicou a médica.
O câncer colorretal pode se desenvolver de forma silenciosa, e os sintomas variam de acordo com a localização do tumor. Quando ele se forma no lado direito do intestino, costuma ser mais discreto e só causar sintomas como anemia ou aumento do abdome em estágios mais avançados. Já do lado esquerdo, é comum aparecerem cólicas, mudanças nas fezes (como afinamento), diarreia intercalada com prisão de ventre e presença de sangue. Quando o tumor está no reto ou ânus, o sintoma mais evidente é o sangramento vivo, além da sensação de que o intestino não esvaziou por completo após evacuar.
Sobre o caso de Preta Gil, a médica comenta que, de acordo com as informações divulgadas pela mídia, o tumor seria localizado no reto e já estaria em estágio avançado no momento do diagnóstico. “Foi indicada a quimioterapia neoadjuvante (antes da cirurgia) como forma de melhorar as condições cirúrgicas. Depois da cirurgia radical, provavelmente foram identificados linfonodos regionais que indicaram a quimioterapia adjuvante. Por ser uma mulher com idade de 48 anos, a evolução nestes casos é mais agressiva, pois quanto mais velho o paciente e mais precoce o diagnóstico, maior o índice de cura.”
Doutora Jane reforça que é essencial estar atento a mudanças no funcionamento do intestino, como alterações na cor e no formato das fezes, quadros de diarreia ou prisão de ventre fora do comum, cólicas, perda de peso sem explicação e cansaço frequente. “As pessoas devem observar a rotina da função intestinal, aspecto das fezes, formato, consistência e coloração. A mudança brusca dessa rotina deverá ser avaliada, como diarreias intercaladas com fezes duras, sangramento nas fezes, dor em cólica ou sensação de peso ao evacuar, emagrecimento inexplicável, quadros de cansaço e anemias. Levar em consideração a história familiar em que outros parentes de primeiro grau possam ter alterações intestinais e até diagnóstico de câncer gastrintestinal.”
A prevenção do câncer colorretal pode ser feita por meio de exames periódicos, como a colonoscopia, que permite identificar e remover pólipos antes que se tornem tumores malignos. A médica recomenda que o exame seja feito a partir dos 40 anos, principalmente por pessoas com fatores de risco. “A prevenção seria nossa aliada a partir das avaliações anuais dos pacientes, onde buscamos informações de acordo com os fatores de risco de cada um. A colonoscopia deverá ser solicitada a partir dos 40 anos. As polipectomias realizadas durante a colonoscopia nos oferecem dados para um acompanhamento mais frequente daqueles com fatores de risco para desenvolver neoplasias. Podemos sugerir também a pesquisa de sangue oculto nas fezes para rastrear alterações importantes.”
O tratamento varia conforme o tipo e a fase do tumor, e envolve uma equipe multidisciplinar. A cirurgia é geralmente a primeira opção, sendo seguida por quimioterapia ou radioterapia, dependendo do caso. “As neoplasias malignas, quando bem diagnosticadas e estadiadas, apresentam, de forma geral, boa evolução. Quanto mais precoce for o diagnóstico e de acordo com as idades, fatores de risco vigentes, as respostas são satisfatórias. O tratamento de eleição para as neoplasias colorretais é multidisciplinar, sendo o cirúrgico a primeira escolha, pois desta forma se estadiam melhor o tumor, as margens e o comprometimento linfonodal.”
Por fim, doutora Jane reforça que sintomas persistentes não devem ser ignorados. “A população em geral deve buscar e avaliar as queixas que persistem após o uso de sintomáticos. Caso as veja ao serviço médico, avaliar a necessidade de exames complementares de acordo com cada queixa. Sangue vivo nas fezes são as queixas mais comuns que recebo no consultório e devem ser investigadas com exame físico completo, incluindo toque retal, onde podemos identificar mais de 80% das lesões no reto.”