Na Escola Municipal Esther Limírio Brigagão, no Residencial 2000, um muro é preenchido com fotos que falam de força, pertencimento e humanidade (Foto/Divulgação)
Teve início na terça-feira (23) a exposição a céu aberto do Projeto Ongusu, com a instalação de painel no muro da Escola Municipal Esther Limírio Brigagão, no Residencial 2000, em Uberaba.
Mais do que uma exposição, o Ongusu transforma o espaço público em um ato político de afeto. Ao ocupar um território historicamente atravessado pela desigualdade, o projeto reafirma que mulheres negras importam, existem, resistem e merecem ser vistas com dignidade, todos os dias.
Idealizado e conduzido pela fotógrafa Renata Reis, o Ongusu nasceu em 2016 com o propósito de dar visibilidade às histórias de mulheres negras de Uberaba, que, segundo o projeto, por séculos, foram silenciadas, invisibilizadas e colocadas à margem. Desde então, mais de 100 mulheres já tiveram suas trajetórias registradas, criando uma poderosa rede de apoio, escuta e fortalecimento coletivo.
“Levar o Ongusu para o espaço público é dizer que essas histórias não podem mais ficar escondidas. É um gesto de enfrentamento ao racismo estrutural e, ao mesmo tempo, um convite ao cuidado, ao reconhecimento e à empatia”, afirma Renata Reis.
A escolha do local não é aleatória. Instalar o painel em um bairro de alta vulnerabilidade social é também um gesto de reparação simbólica, especialmente para crianças e jovens negros que circulam diariamente pelo espaço escolar. Ver mulheres negras retratadas com respeito, beleza e protagonismo impacta diretamente a construção da autoestima e da identidade.
O projeto “Ongusu: retratos de empoderação” é um projeto cultural aprovado no edital de chamamento público Nº 001/2024, que seleciona projetos para firmar Termo de Execução Cultural com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura – PNAB (Lei nº 14.399/2022), no município de Uberaba. O reconhecimento institucional reforça a relevância cultural, social e educativa do Ongusu, evidenciando a importância de políticas públicas comprometidas com a diversidade, a equidade racial e a democratização do acesso à cultura.
O nome Ongusu, que significa “força” na língua Umbundu (Angola), traduz a essência do projeto: força que nasce da ancestralidade, da coletividade e da coragem de existir em um país ainda profundamente desigual.
De acordo com Renata, em um momento em que o debate antirracista se faz urgente, o Ongusu reafirma que arte também é ferramenta de transformação social. “Cada imagem exposta no muro é um grito silencioso contra o apagamento, um abraço coletivo e uma declaração pública de que vidas negras têm valor”, conclui.