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O acidente que mudou o abastecimento de água em Uberaba

Joanna Prata
Publicado em 25/07/2025 às 09:59Atualizado em 25/07/2025 às 10:09
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Capa do dia 11 de junho de 2003 (Foto/Arquivo JM)

Trem de carga da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) — que transportava produtos químicos inflamáveis — contaminou o Córrego Alegria, afluente direto do Rio Uberaba (Foto/Arquivo JM)

O acidente, provocado pelo excesso de velocidade, fez com que 18 vagões carregados com substâncias como metanol, isobutanol, octanol e cloreto de potássio vazassem, comprometendo imediatamente a captação de água da cidade (Foto/Arquivo JM)

No dia 10 de junho de 2003, Uberaba viveu o maior desastre ambiental do Triângulo Mineiro. O descarrilamento de um trem de carga da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) — que transportava produtos químicos inflamáveis — contaminou o Córrego Alegria, afluente direto do Rio Uberaba, principal fonte de abastecimento da cidade. Na época, o então prefeito Marcos Montes, em seu segundo mandato, liderou a condução da crise. “Eu estava de férias quando recebi a notícia. Fiquei extremamente preocupado, porque, naquele momento, não sabíamos a dimensão do que estava acontecendo”, contou. Segundo ele, a primeira preocupação foi com a possibilidade de haver vítimas, o que, felizmente, não se confirmou. 

O acidente, provocado pelo excesso de velocidade, fez com que 18 vagões carregados com substâncias como metanol, isobutanol, octanol e cloreto de potássio vazassem, comprometendo imediatamente a captação de água da cidade. Diante do risco à saúde da população, a medida inicial foi o corte imediato do abastecimento, pois “não podíamos tirar água da nossa única captação sem saber o que havia ali” - relembra Marcos Montes. 

A partir desse ponto, a prefeitura iniciou uma corrida por soluções emergenciais. Marcos Montes retornou à cidade, reuniu sua equipe de governo, técnicos e representantes da Vale — empresa responsável pelo transporte — que, segundo ele, “não fugiu da responsabilidade” e colaborou com uma verdadeira operação de guerra. Caminhões-pipa foram mobilizados de diversas regiões do Brasil para atender à demanda emergencial, enquanto a análise da qualidade da água acontecia diariamente, com o envio de amostras para laboratórios especializados no Rio de Janeiro. 

Uma das alternativas encontradas foi a captação emergencial de água no Rio Claro, medida que se mostrou decisiva para o restabelecimento do abastecimento da cidade. “Foi um esforço gigantesco da equipe da Codau e dos funcionários da prefeitura, que demonstraram um comprometimento admirável”, ressaltou o ex-prefeito, destacando ainda o papel fundamental dos secretários municipais. Eles atuaram na linha de frente, percorrendo estradas inclusive à noite, formando uma verdadeira força-tarefa. 

De fato, a experiência vivida em 2003 levou ao desenvolvimento de um sistema de captação do Rio Claro que foi aperfeiçoado e se consolidou como a solução adotada até hoje durante os períodos de estiagem, com a transposição das águas para o Rio Uberaba, principal fonte de abastecimento à população. Essa iniciativa não apenas atendeu à demanda emergencial do momento, mas também se transformou em um legado para a segurança hídrica de Uberaba. 

A solidariedade da população também se fez presente. “Vi gente com lata d’água na cabeça ajudando o vizinho. Quem tinha, oferecia. Foi uma cena de união que poucas cidades vivenciam e que me marcou muito”, relata Montes. 

Como desdobramento do episódio, o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a prefeitura, a Vale e o Ministério Público possibilitou importantes investimentos em infraestrutura, como a perfuração de poços profundos e construção de novos reservatórios de água. 

Marcos Montes conclui que o principal aprendizado foi o valor da união e da liderança empática diante de uma crise. “Numa tragédia, o gestor precisa ter equilíbrio, humildade e, acima de tudo, amor pelas pessoas. É mais do que administrar; é estar presente, consolar e agir com responsabilidade.” 

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