Mesmo longe das bordas das placas, pressões tectônicas podem romper rochas e gerar abalos de baixa a moderada magnitude
O sismólogo Bruno Collaço (Foto/Divulgação)
Após o registro de um tremor de terra sentido na última sexta-feira (12) em cidades do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba, o fenômeno despertou dúvidas entre moradores da região. Segundo especialistas, o abalo tem origem natural e está relacionado à liberação de energia acumulada nas rochas da crosta terrestre ao longo do tempo.
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De acordo com o sismólogo Bruno Collaço, do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), embora o Brasil esteja localizado no interior da Placa Sul-Americana, longe das bordas onde ocorrem grandes terremotos, a placa sofre pressões constantes de outras estruturas tectônicas. Essa força se distribui pelo interior da crosta e, quando supera a resistência das rochas, provoca rupturas que liberam energia em forma de ondas sísmicas, responsáveis pelos tremores sentidos na superfície.
Mesmo distante de áreas como Chile e Japão, onde os terremotos são mais intensos, o Brasil registra abalos sísmicos com relativa frequência. Segundo o especialista, eventos de baixa magnitude ocorrem praticamente todas as semanas no país, enquanto tremores um pouco mais fortes, como o registrado recentemente na região, são menos comuns, mas fazem parte do comportamento geológico natural do território.
Em Minas Gerais, a atividade sísmica é acompanhada de perto por especialistas. Somente em 2025, já foram registrados 105 eventos no estado, a maioria de baixa magnitude e sem impactos para a população. Na região de Frutal, por exemplo, foram contabilizados 10 registros ao longo do ano, reforçando que esses fenômenos não são incomuns.
Outro ponto analisado foi a profundidade do tremor mais recente, estimada em cerca de 30 quilômetros. Conforme explica Bruno Collaço, quanto maior a profundidade do evento, maior tende a ser a área onde o abalo pode ser percebido, mesmo quando a magnitude não é elevada.
O sismólogo também descartou qualquer relação do tremor com atividades humanas, como a mineração. A profundidade do evento inviabiliza esse tipo de interferência, e os abalos são classificados como naturais, de origem tectônica, sem ligação com fatores meteorológicos ou ações do homem.
Apesar do susto causado à população, o histórico mostra que o Brasil não está sujeito a grandes terremotos com frequência. O maior já registrado no país teve magnitude 6,2, na década de 1950, no Mato Grosso. Em Minas Gerais, o evento mais intenso ocorreu em 2007, em Itacarambi, no Norte do estado, com magnitude 4,7. Tremores acima de 5 são considerados extremamente raros no país.
O monitoramento da atividade sísmica é realizado pela Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), que reúne instituições como USP, UnB, UFRN e o Observatório Nacional. Com dezenas de estações espalhadas pelo território nacional, a rede acompanha os eventos em tempo real e permite uma análise contínua dos fenômenos.