Uberaba tem se destacado como referência em doação de órgãos no interior de Minas Gerais, mantendo uma média de 80% de autorização familiar nas entrevistas realizadas após o diagnóstico de morte encefálica. De acordo com o médico intensivista Ilídio Antunes, só neste ano a cidade já realizou 27 transplantes e registrou a captação de 52 órgãos e tecidos.
O índice local está muito acima da média nacional, que gira em torno de 50%, reforçando o papel de Uberaba como exemplo de acolhimento e conscientização. Segundo Ilídio Antunes, que é o coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM), ao menos 10 famílias entrevistadas autorizam a doação. “Enquanto a média brasileira de negativa familiar é cerca de 50%, a nossa aqui é 20%, no máximo 30%. A média mundial é em torno de 25%”, diz.
Só no primeiro semestre de 2025, o HC-UFTM registrou 20 casos de morte encefálica com possibilidade de captação. Em 16 deles, as famílias autorizaram a doação, permitindo a captação de 52 órgãos e tecidos. “Já foram 22 rins, nove fígados, três corações, um pâncreas e quase 20 córneas. Há 30 anos, esse índice era quase zero na cidade.”, revela o coordenador.
Entre as principais causas de morte encefálica estão o acidente vascular cerebral (isquêmico ou hemorrágico), o traumatismo cranioencefálico, paradas cardíacas prolongadas e tumores cerebrais. Cada paciente doador pode beneficiar, em média, de seis a oito receptores, índice observado na realidade brasileira. Em Uberaba, há registros de captação de até oito órgãos de um único doador, sendo cada um destinado a um receptor diferente, reforçando o impacto positivo da doação.
Apesar dos bons resultados, nem todas as mortes são viáveis para doação. Referência em alta complexidade para Uberaba e mais 26 cidades da região, o HC-UFTM registra cerca de mil óbitos por ano. No entanto, apenas 4,5% a 5% são elegíveis para entrevista com as famílias, devido a contraindicações médicas. “Não é possível captar órgãos de doadores com dengue recente, HIV, hepatite B e C — com raras exceções, quando o receptor também tem hepatite. A córnea e o pulmão são os mais rigorosos, necessitando inclusive de teste de covid; caso dê positivo ou a pessoa tenha contraído há menos de 14 dias, inviabiliza a captação”, explica o médico.
Uberaba também avança no cadastro de doadores de medula óssea. Hoje, são mais de 30 mil inscritos com até 35 anos, idade máxima permitida. Ilídio atribui os resultados a ações contínuas de conscientização, acolhimento e campanhas como o “Setembro Verde”.
Brasil bate recorde de transplantes
Em 2024, o Brasil registrou mais de 30 mil transplantes, maior número já alcançado. Uberaba é uma das cidades que contribuem para esse avanço. No HC-UFTM, são realizados transplantes de rins (com doadores vivos e falecidos), tecidos oculares, medula óssea, ossos (tendões e ligamentos) e, eventualmente, válvulas cardíacas.
A expectativa, segundo Ilídio, é ampliar a capacidade do hospital, com a inclusão futura de transplantes de fígado e coração. “Temos profissionais competentes e seguimos trabalhando para que o HC esteja ainda mais preparado”, finaliza.