
Durante evento na sede da CBF, críticas de Leão e Oswaldo a técnicos estrangeiros deixaram Ancelotti visivelmente incomodado (Foto/Reprodução)
Um encontro que pretendia celebrar a união entre técnicos brasileiros e valorizar a profissão acabou marcado por constrangimento e tensão nos bastidores da CBF. Durante o 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, realizado nesta terça-feira (4), na sede da Confederação, as falas de Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira contra técnicos estrangeiros provocaram mal-estar geral — principalmente diante da presença do atual comandante da seleção, Carlo Ancelotti.
O evento, organizado pela Federação Brasileira de Treinadores de Futebol (FBTF), acontecia de forma protocolar até o momento em que Leão tomou o microfone e questionou o número crescente de profissionais estrangeiros em clubes brasileiros. Em seguida, Oswaldo de Oliveira reforçou o discurso, afirmando que “espera ver um treinador brasileiro novamente no comando da seleção depois que Ancelotti conquistar o título no ano que vem”.
A brincadeira, feita em tom de ironia, não caiu bem. Segundo relatos de pessoas presentes, Ancelotti ficou visivelmente desconfortável, mantendo o olhar fixo e postura contida. O técnico italiano havia sido convidado apenas para receber uma homenagem simbólica e não esperava ser alvo de comentários polêmicos.
A CBF precisou agir rapidamente para amenizar o constrangimento, já que o episódio ocorreu dentro da própria sede da entidade. Apesar de a Confederação não ter sido organizadora do fórum, o fato de o evento ter acontecido em suas dependências acabou ampliando o impacto do episódio.
Nos bastidores, dirigentes e membros da FBTF tentaram contornar a situação. O diretor da federação, Alfredo Sampaio, se pronunciou em tom firme após as declarações de Oswaldo, repudiando publicamente o comportamento:
“Foi uma postura inadequada. Estávamos em um ambiente de aproximação com a principal instituição esportiva do país, que vem abrindo espaço e diálogo com os treinadores. Não era o momento para esse tipo de colocação. Fica aqui o meu repúdio à fala do Oswaldo de Oliveira”, afirmou Sampaio, sob aplausos contidos da plateia.
Mesmo com a tentativa de controlar os danos, o clima de mal-estar se espalhou pelos corredores da CBF. Segundo interlocutores da entidade, o episódio foi considerado “infeliz e inoportuno”, principalmente porque o evento tinha o objetivo de fortalecer a relação entre técnicos e dirigentes.
Fontes próximas à confederação confirmaram que o discurso de Sampaio foi uma ação de emergência para evitar uma crise institucional e reconduzir o evento à normalidade. Ainda assim, o constrangimento foi inevitável: Ancelotti retornou discretamente ao seu gabinete após o encerramento da homenagem, evitando entrevistas e cumprimentos.
O fórum, que deveria ser lembrado pela troca de ideias e avanços na valorização dos profissionais brasileiros, terminou marcado pela divisão e pela falta de tato. Em vez de um debate técnico, ficou o registro de um episódio que expôs a dificuldade do futebol brasileiro em lidar com a presença de técnicos estrangeiros — e deixou, mais uma vez, o “Carletto” italiano em meio a um fogo cruzado que não esperava enfrentar.