Estudantes de medicina debocham de paciente transplantada e vídeo viraliza nas redes sociais (Foto/Reprodução/Redes Sociais)
Um vídeo publicado nas redes sociais por duas estudantes de medicina gerou indignação e levou à abertura de uma investigação formal após zombarias dirigidas a uma paciente que morreu por insuficiência renal, após quatro transplantes de órgãos ao longo da vida. A jovem, identificada como Vitória Chaves da Silva, 26 anos, faleceu em 28 de fevereiro no Instituto do Coração (Incor), vinculado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Na gravação, as estudantes — cujos nomes ainda não foram oficialmente divulgados — descrevem um caso clínico envolvendo três transplantes cardíacos realizados durante a infância, adolescência e início da vida adulta, além de um transplante renal. Apesar de não mencionarem o nome da paciente, internautas rapidamente identificaram que se tratava de Vitória, em razão das informações específicas reveladas no vídeo e da proximidade da data da publicação com o falecimento da jovem.
Além de ridicularizarem o número de procedimentos a que Vitória foi submetida, as alunas sugerem que a paciente teria sido responsável por rejeições anteriores aos órgãos transplantados, ao supostamente não seguir corretamente os protocolos de medicação. “A segunda vez ela transplantou e não tomou os remédios que deveria tomar, o corpo rejeitou e teve que transplantar de novo, por um erro dela”, disse uma das estudantes. A outra completou com ironia: “Essa menina tá achando que tem sete vidas”.
O vídeo foi publicado no dia 17 de fevereiro, apenas nove dias antes da morte de Vitória. Após a repercussão nas redes sociais, um amigo da família reconheceu a história contada pelas estudantes e notificou os parentes da jovem. A reação foi imediata: um boletim de ocorrência foi registrado, e o caso foi encaminhado ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) e ao Incor, que ainda não se pronunciou oficialmente sobre o ocorrido.
A família de Vitória manifestou revolta com a forma como a memória da jovem foi tratada. Segundo relatos, Vitória enfrentava uma batalha complexa pela vida desde muito cedo, com coragem e resiliência diante de uma condição de saúde extremamente delicada. A exposição, considerada desrespeitosa e antiética, chocou também profissionais da área médica e acadêmica.
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) e entidades ligadas à formação médica devem ser acionados para avaliar a conduta das alunas, que podem sofrer sanções administrativas e éticas. O episódio reacende o debate sobre responsabilidade profissional e respeito à dignidade dos pacientes, inclusive no ambiente acadêmico.