Bolsa Família faz 1 em cada 2 famílias deixar força de trabalho, diz estudo

Um estudo do FGV Ibre aponta que o aumento do valor médio do Bolsa Família para cerca de R$ 670, em 2023, reduziu a participação de beneficiários no mercado de trabalho. A pesquisa, conduzida pelo economista Daniel Duque, mostra que, a cada duas famílias atendidas, uma deixa de trabalhar. Entre os elegíveis ao programa, a taxa de participação no mercado caiu 11% em relação a quem não recebe o benefício.

As chances de ter ocupação e emprego formal diminuíram 12% e 13%, sobretudo entre homens de 14 a 30 anos no Norte e Nordeste. Duque explica que muitos evitam empregos formais para não perder o benefício, apesar das regras de transição. Segundo ele, adiar o primeiro emprego pode reduzir a renda futura em até 10%, efeito comparável a perder um ano de escolaridade.

O pesquisador sugere reduzir valores pagos a jovens sem perspectiva de estudo e reforçar transferências a mães e estudantes, além de integrar o programa a políticas de educação e qualificação, como o Pé-de-Meia.

Criado em 2003, o Bolsa Família teve o benefício médio ampliado de R$ 190, em 2019, para R$ 670 em 2023, passando de 14 milhões para 21 milhões de famílias atendidas. O orçamento anual cresceu de R$ 35 bilhões, em 2017, para R$ 170 bilhões.

O avanço do programa ajuda a explicar por que a taxa de participação no mercado de trabalho não voltou ao nível pré-pandemia, ficando em 62,2% no início de 2025, contra 63,6% em 2019. Atualmente, mais de 50 milhões de pessoas são beneficiárias.

Desde junho, novas regras permitem que famílias que superarem o limite de renda de R$ 218 per capita permaneçam por até 12 meses no programa, recebendo metade do valor, desde que a renda não ultrapasse R$ 706. O governo afirma que as mudanças buscam manter a sustentabilidade do Bolsa Família e priorizar famílias em maior vulnerabilidade.