Foram 33.999 casos registrados de janeiro a junho deste ano
O Brasil segue enfrentando níveis alarmantes de violência contra mulheres. No primeiro semestre de 2025, foram registrados em média quatro feminicídios e 187 estupros de mulheres por dia, segundo dados do Mapa Nacional da Violência de Gênero, divulgados nesta terça-feira (26/8).
O levantamento, produzido pelo Instituto Natura e pelo Observatório da Mulher contra a Violência do Senado a partir de informações do Ministério da Justiça e Segurança Pública, aponta que 718 mulheres foram mortas por razões de gênero entre janeiro e junho deste ano.
Em números absolutos, São Paulo lidera o ranking de feminicídios (128), seguido por Minas Gerais (60), Bahia (52), Rio de Janeiro (49) e Pernambuco (45). Desde que a Lei do Feminicídio foi sancionada, em 2015, o país soma 12.380 vítimas, mantendo uma média de quatro mortes diárias nos últimos cinco anos.
Quando se observa os registros de estupro, os índices continuam elevados, embora apresentem leve queda em relação a anos anteriores. Foram 33.999 casos de janeiro a junho de 2025, resultando na média de 187 por dia. No mesmo período de 2024, eram 205 ocorrências diárias. Ainda assim, a média dos últimos cinco anos permanece em 195 notificações por dia.
Em junho deste ano, Rondônia apresentou a maior taxa proporcional de estupros (16 casos a cada 100 mil habitantes), seguido por Amapá e Roraima (13). Os menores índices foram observados no Rio Grande do Norte, no Distrito Federal e no Ceará (3).
Especialistas ouvidas pela reportagem reforçam que os números expõem tanto a gravidade quanto a insuficiência da resposta do poder público. Para Beatriz Accioly, doutora em antropologia pela USP e líder de políticas públicas no Instituto Natura, é urgente ampliar a rede de enfrentamento à violência de gênero no país.
“Infelizmente, o tema ainda é tratado como questão moral, e não como prioridade de gestão pública, com orçamento e planejamento. É preciso fortalecer os serviços de atendimento, sobretudo fora das capitais, para garantir respostas rápidas e eficazes”, afirma.
Já Vitória Régia da Silva, diretora-executiva da Associação Gênero e Número, vai além ao apontar omissão do Estado:
“Os dados revelam a falha em proteger meninas e mulheres. Informação precisa se transformar em ação concreta. Não podemos naturalizar a violência como parte do cotidiano”, alerta.
Além das falhas estruturais, especialistas lembram que os números podem estar subestimados, já que a caracterização de feminicídio muitas vezes depende da interpretação da autoridade policial, o que dificulta a diferenciação entre homicídios comuns e crimes de gênero.