O Brasil pode ter a oportunidade de expandir ainda mais as exportações de soja para a China, diante de uma tensão entre o país asiático e os Estados Unidos. Analistas enxergam o movimento como positivo para o Brasil, que deve fortalecer a parceria. Mas, ao mesmo tempo, isso pode trazer mais uma tensão entre Brasil e EUA.
“A decisão da China de priorizar a soja brasileira deve aumentar as exportações para lá, sim, principalmente no segundo semestre, quando os EUA costumam liderar as vendas. Isso fortalece a posição do Brasil como principal fornecedor e traz ganhos imediatos para o agro”, comenta o analista de comércio exterior Jackson Campos. “Mas ocupar um espaço tradicionalmente americano também acende um alerta em Washington, ainda mais em um contexto de disputas comerciais e políticas”, pontua.
No último domingo (10/8), dois dias antes da data em que a trégua tarifária entre Washington e Pequim acabaria, o presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu à China que quadruplicasse as importações de soja americana. "A China está preocupada com sua escassez de soja. Nossos grandes agricultores produzem a soja mais robusta. Espero que a China rapidamente quadruplique seus pedidos de soja", disse em post na rede social Truth. No dia seguinte, a Casa Branca prorrogou a trégua, iniciada em abril, por mais 90 dias. Com isso, ficam suspensos até novembro os aumentos de 145% para as tarifas dos EUA sobre produtos chineses e de 125% para as tarifas da China sobre produtos americanos.
A tentativa é vista no mercado como uma ação “desesperada” do presidente dos Estados Unidos, que teme uma redução drástica nas exportações de soja. Enquanto isso, Brasil e China trabalham na criação de um protocolo bilateral para certificação e rastreabilidade de produtos agropecuários, com foco central na exportação de carne e soja para o país asiático.
Além disso, a China tem aumentado as importações de soja brasileira já há algum tempo. Só neste ano, de janeiro a julho de 2025, o Brasil exportou 77,2 milhões de toneladas da oleaginosa para o país asático - há cinco anos, o volume anual era de 35,3 milhões. Inclusive julho bateu recorde histórico para o mês, com 12,25 milhões de toneladas enviadas aos chineses, segundo levantamento da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) analisado pelo Cepea.
Com o temor de perder o mercado chinês, o presidente norte-americano pode agir com novas sanções. “Trump já mostrou que não hesita em usar tarifas como forma de pressão e, se enxergar que essa perda de mercado para a China está ligada à competitividade brasileira, pode reagir. Ou seja, o avanço é positivo, mas precisa vir junto com cuidado diplomático para não virar motivo de novas barreiras”, pondera Jackson Campos.
Fonte: O Tempo.