CNI afirmou que decisões do Banco Central sobre a Selic ignorou indicadores econômicos (Foto: Blog do Rota 2030 / Reprodução)
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) emitiu nota, nesta quinta-feira (19), com críticas ao mercado financeiro e ao Banco Central. No comunicado, a entidade alertou que a Selic e o dólar em alta tiram a competitividade do setor produtivo no país. O texto ressalta a melhora nos indicadores econômicos do país, como a melhora do PIB e a apresentação do pacote de corte de gastos, apesar de cobrar uma contenção de despesas mais severa do governo.
De acordo com a CNI, a disparada do dólar, que ontem se aproximou dos R$ 6,30, e a elevação da taxa básica de juros a 12,25% - com promessa de subida a 14,25% até março, podem comprometer o desenvolvimento econômico do país. O setor industrial avalia que há um cenário positivo com a assinatura do acordo do Mercosul e União Europeia e com os investimentos do programa Nova Indústria Brasil.
Conforme a entidade, a alta crescente do dólar impõe uma desvalorização do real que pode afetar, principalmente, a indústria da transformação. O segmento importa 23,7% dos insumos usados no processo de produção, somando-se os custos dos preços das commodities, o que encarece o custo às empresas e chegando também ao consumidor final.
“A nossa moeda perde valor em compasso com a piora das expectativas do mercado financeiro, que contrariam dados reais da performance da economia e do controle da dívida pública. É momento de buscar maior convergência e coordenação entre os atores para enfrentar esse cenário de instabilidade, que beneficia a poucos enquanto prejudica o setor produtivo e o desenvolvimento da nossa sociedade, principalmente com a real perda de poder aquisitivo”, enfatizou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Segundo a CNI, a alta do dólar somada à crescente taxa de juros comprometem ainda mais a atividade produtiva, com possibilidade de resultados inversos na política de controle da inflação no curto e médio prazos. Segundo a entidade, elementos importantes nas expectativas futuras deveriam ser considerados, como o esperado crescimento da safra que deverá contribuir decisivamente nos preços dos alimentos; os preços de petróleo, que apresentam certa estabilidade; o crescimento da massa salarial, que não deve manter o ritmo com a indisponibilidade de injeção de recursos, como ocorreu no biênio 2022/23.
"O tão desejado equilíbrio e responsabilidade fiscal são indiscutíveis e devem ser perseguidos como política de Estado, não apenas de governos. O pacote fiscal anunciado pelo governo prevê cortes efetivos de gastos públicos, ainda que não se mostrem suficientes. Mas, definitivamente é um passo na direção. Cabe a todos os poderes trabalharem pela racionalidade dos gastos públicos, com apoio da sociedade", avaliou Alban.
Selic
Na nota, a CNI criticou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros para 12,25%, e indicar aumento de mais 2,0 pontos percentuais até março. Para o setor industrial, a decisão ignorou elementos importantes, tanto no cenário interno quanto externo, como a desaceleração da atividade econômica, já observada no PIB do terceiro trimestre, além de tendência de redução de juros nas principais economias globais.
"O que o anúncio inédito de que teríamos mais dois aumentos consecutivos de mais 1% na taxa Selic traz de melhoria e contribuição para as expectativas atuais, que já sofrem tantos movimentos especulativos?", questiona o presidente da CNI. Segundo ele, além disso, os juros efetivos e o spread praticados no Brasil já são altíssimos, contribuindo para encarecer os custos das cadeias produtivas, já pressionados pelo câmbio.
A questão fiscal, segundo a CNI, traz preocupação, mas o déficit de 2024, estimado em 0,18% do Produto Interno Bruto (PIB), não é motivo para alarde. A justificativa é que o resultado estará dentro da chamada banda inferior de tolerância para o resultado primário. Já em 2025, segundo a CNI, as contas públicas devem registrar prejuízo de R$ 42 milhões, descontados pagamentos de precatórios, será equivalente a 0,4% do PIB.
“Ainda que a projeção aponte para um déficit fora da banda de tolerância de 0,25% do PIB, a CNI entende que o cumprimento da meta é exequível, dependendo de um contingenciamento totalmente viável do orçamento. Além disso, as medidas de redução de despesas propostas pelo governo, estimadas em R$ 70 bilhões para os próximos dois anos, contribuem para a sustentabilidade do novo arcabouço e melhoram a sintonia entre as políticas fiscal e monetária”, ponderou a Confederação.
Por fim, o setor industrial afirmou que as iniciativas do governo representam pé no freio do impulso fiscal sobre a atividade econômica, movimento que já vem ocorrendo em 2024, sobretudo a partir do segundo semestre, e deve continuar em 2025, favorecendo o controle da inflação.
“O ajuste sugerido pelo governo é positivo, embora ainda possa ser aperfeiçoado pelo Congresso, e tende a ser efetivo na contenção das despesas. Logo, a CNI entende que a reação ao pacote, com desvalorização da taxa de câmbio e alta nos juros futuros, é exagerada e deve ser interpretada com cautela”, finalizou a entidade.