No norte de Israel houve uma breve troca de ataques com o grupo militante Hezbollah do Líbano, que aumentou os receios de um conflito mais amplo na região
Moradores verificam os danos após ataques aéreos israelenses na Cidade de Gaza, na madrugada de 8 de outubro de 2023 (Foto/Mahmud Hams/AFP)
Até o início do segundo dia do conflito entre Israel e o Hamas, neste domingo (8), morreram ao menos 720 pessoas dos dois lados. Conforme o mais recente balanço divulgado pelas autoridades, foram 400 baixas no território israelense e 320 na Palestina – 313 na Faixa de Gaza e 7 na Cisjordânia. Há milhares de pessoas feridas.
O governo de Israel informou, no início da manhã deste domingo, que havia oito pontos de combate e seu exército retomou 22 localidades na região sul do país tomadas pelo Hamas no dia anterior.
Já no norte de Israel houve uma breve troca de ataques com o grupo militante Hezbollah do Líbano, que aumentou os receios de um conflito mais amplo na região.
Logo em seguida, representantes do Hezbollah declararam que as armas do grupo terrorista estavam à disposição do Hamas. Tanques de Israel se deslocaram para a fronteira com o Líbano.
O Hamas fez um ataque surpresa contra Israel na manhã de sábado (7). O braço armado do grupo islâmico diz ter lançado cerca de 5 mil foguetes a partir da Faixa de Gaza. Autoridades israelenses falam que foram 2 mil. Independentemente do número certo, esta é uma das maiores ofensivas contra o país nos últimos anos.
O grupo terrorista também fez ataques por terra, usando carros comuns e jipes, conseguindo inclusive invadir bases militares israelenses e tomar blindados e outros equipamentos bélicos. Extremistas também usaram parapentes para atacar o território inimigo. Outros que estavam infiltrados em cidades israelenses atiraram em civis e militares.
Quase 60 civis e militares israelenses são sequestrados pelo Hamas
Ao menos 57 israelenses foram feitos reféns pelo Hamas no kibut de Beeri, próximo à fronteira com a Faixa de Gaza. Um dos líderes do grupo terrorista, Saleh Al-Arouri, afirmou à emissora de TV Al Jazeera que há vários oficiais entre os capturados.
Vídeos em redes sociais mostram o que seriam civis e militares sendo rendidos e raptados por terroristas. Há inclusive vídeos de mulheres idosas sendo levadas sob mira de arma pesada. Outros são de pessoas tiradas à força de carro e até de casa. Algumas das pessoas capturadas estão feridas.
A imprensa de Israel também informou que homens armados abriram fogo contra pedestres em Sderot. Imagens publicadas nas redes sociais pareciam mostrar confrontos nas ruas da cidade, bem como homens armados em jipes vagando pelo campo.
Líder do Hamas fez convocação para todos palestinos com teor ideológico
O comandante militar do Hamas, Mohammad Deif, anunciou o início do ataque, em uma transmissão nos meios de comunicação do grupo terrorista, apelando aos palestinos de todo o mundo para que lutassem.
“Este é o dia da maior batalha para acabar com a última ocupação na Terra”, disse ele. “Se você tem uma arma, use-a. Esta é a hora de usá-la – saia com caminhões, carros, machados. Hoje começa a melhor e mais honrosa história”, ressaltou.
O chefe do Hamas disse ainda que o ataque a Israel foi uma resposta aos ataques às mulheres, à profanação da mesquita de al-Aqsa e ao cerco a Gaza. Muhammad apelou aos povos árabes e islâmicos para que viessem à “libertação de al-Aqsa”, a mesquita em Jerusalém.
Benjamin Netanyahu disse que o país está “em guerra”
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que o país está “em guerra” após o ataque surpresa do Hamas. “Cidadãos de Israel, estamos em guerra – não numa operação, não em rondas – em guerra”, disse Netanyahu numa mensagem de vídeo.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, sustentou a posição de Netanyahu e disse que Israel “vencerá esta guerra” contra o Hamas, horas depois de o grupo lançar foguetes e enviar soldados para o território israelense.
“O Hamas cometeu um grave erro esta manhã e lançou uma guerra contra o Estado de Israel. As tropas das FDI estão lutando contra o inimigo em todos os locais. Apelo a todos os cidadãos de Israel para que sigam as instruções de segurança. O Estado de Israel vencerá esta guerra.”
Ataque aconteceu exatos 50 anos após outra ofensiva surpresa contra Israel
A ofensiva surpresa do Hamas contra Israel aconteceu exatamente 50 anos após o início da Guerra do Yom Kippur, um conflito ocorrido em 1973, envolvendo israelenses e árabes na região próxima ao canal de Suez, na fronteira com o Egito.
Essas ações militares foram iniciadas em uma data que é sagrada no calendário judaico: o Yom Kippur, o Dia do Perdão. Desde 1948, quando foi criado o Estado de Israel, no Oriente Médio, os países árabes se opuseram à presença judaica na região e tentaram se opor de todas as formas contra a formação do novo Estado.
Os israelenses haviam construído uma linha de fortificações em Suez para garantirem a proteção dos territórios conquistados na Guerra dos Seis Dias, em 1967 – quando Israel fez ataques contra áreas então ocupadas por palestinos e outros povos centenários e milenares da região –, o que desagradou os inimigos árabes.
Em 6 de outubro de 1973, as forças do Egito e da Síria iniciaram um ataque contra Israel em batalhas em terra, mar e ar. O exército egípcio cruzou a margem oriental do canal de Suez, rompeu a linha de fortificações israelense e penetrou no deserto. A operação pegou de surpresa o adversário, que precisou recuar no Sinai. Simultaneamente, tropas sírias invadiram as colinas de Golã, território ocupado por Israel, e conseguiram retomar várias posições na região.
O exército israelense reagiu imediatamente. A marinha do país judaico conseguiu derrotar as embarcações árabes e expulsar por terra os soldados egípcios e sírios, no mar Mediterrâneo. Após intensos combates, Israel conseguiu novamente derrotar os árabes e manter os territórios conquistados desde 1967.
A guerra acabou em 26 de outubro de 1973, com a vitória de Israel. Em 1978, israelenses e egípcios assinaram um Acordo de Paz em Camp Davi, nos Estados Unidos. O Egito reconheceu a existência do Estado de Israel, tornando-se o primeiro país árabe a tomar tal atitude. Esse acordo retomou as relações diplomáticas entre israelenses e egípcios.
A Guerra do Yom Kippur teve como principal consequência a Crise do Petróleo, que causou sérios problemas econômicos para os países ocidentais aliados de Israel nos anos 1970 e 1980. (Com informações da AFP, Al Jazeera e CNN Internacional)
Fonte: O Tempo