Os Correios preparam um novo programa de demissão voluntária (PDV) com a meta mínima de desligar 10 mil funcionários, dentro de um plano amplo de reestruturação. A medida é tratada como essencial para ajustar as contas da estatal e garantir o empréstimo de R$ 20 bilhões atualmente negociado com bancos, operação que contará com garantia do Tesouro Nacional.
A empresa tenta atrair mais instituições financeiras para reduzir o custo do crédito. O aval soberano diminui o risco para os bancos, já que a União cobre eventuais calotes. A estatal enfrenta um quadro financeiro crítico: acumula prejuízos desde 2022 e deve encerrar 2025 com um déficit de R$ 10 bilhões. Sem novos aportes, projeções internas indicam que o rombo pode dobrar em 2026 e alcançar até R$ 70 bilhões em cinco anos, considerando multas por atrasos a fornecedores.
O PDV deve ser lançado em duas fases. A primeira seguirá critérios tradicionais de idade e tempo de serviço. A segunda estabelecerá metas de desligamento específicas por área, com base em um estudo de produtividade que identifica agências sobrepostas e unidades deficitárias. Dos cerca de 10 mil pontos de atendimento, apenas 15% operam no azul, segundo relatório de 2024.
A estatal, que possui 85 mil empregados e destina 72% de seus custos a despesas de pessoal, pretende focar a redução em áreas com ociosidade, como já havia sinalizado o presidente Emmanoel Rondon. O desafio é oferecer incentivos suficientes para atrair adesões, mas sem sobrecarregar ainda mais as contas — o PDV lançado em 2024 teve adesão de apenas 3.705 trabalhadores.
Entre os entraves estão o receio dos empregados em depender da aposentadoria do Postalis, fundo de pensão afetado por déficits, e a insegurança sobre o plano de saúde, considerado um dos principais benefícios da categoria. O governo teme baixa adesão e já prevê medidas compensatórias caso as metas não sejam atingidas.
Parte dos recursos do empréstimo será destinada ao financiamento do PDV. A expectativa é que, apesar do gasto inicial elevado, o corte de pessoal traga alívio fiscal no médio e longo prazo. Os bancos e órgãos de controle, como TCU e CGU, acompanham de perto a reestruturação, que também prevê venda de imóveis, mudanças no plano de saúde, revisão de cargos e salários e flexibilização de jornadas para ampliar entregas nos fins de semana.
A direção dos Correios também planeja cobrar metas e desempenho dos superintendentes, com possibilidade de implementar remuneração variável no futuro.
As próximas duas semanas serão decisivas para concluir o desenho final do plano e receber novas propostas de crédito. Na primeira rodada de negociações, um grupo formado por Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil ofereceu os R$ 20 bilhões solicitados, porém com custo de 136% do CDI — acima do teto de 120% previsto pelo Tesouro para operações com garantia da União. A diferença representaria centenas de milhões de reais extras ao longo dos dez anos de contrato. Diante do cenário, os Correios decidiram abrir nova rodada de negociações para tentar reduzir a taxa.