Neste 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, ações estão sendo feitas em todo o país para conscientizar as pessoas e estimular denúncias contra abusos
No ano passado, mais de 6 mil crianças e adolescentes foram abusados sexualmente em Minas Gerais (Foto/Pixabay/Divulgação)
Apenas de janeiro a março deste ano, 1.537 crianças e adolescentes foram vítimas de crimes sexuais em Minas Gerais. Desse total, 595 têm menos de 11 anos de idade. No ano passado, o número chegou a 6.399. Apesar de os registros serem tristes e alarmantes, eles nem de longe mostram a terrível realidade em que muitos pequenos vivem, segundo especialistas. Abusados por pessoas que, muitas vezes, eles amam (como pais e avós), sem saber, em várias ocasiões, que estão sendo machucados no corpo e na alma e incapazes de pedir socorro, eles podem ser um número bem maior do que aparece nas estatísticas. Essas pequenas vítimas podem estar, inclusive, ao seu lado.
É pensando justamente em alertar todos que podem ajudar crianças e adolescentes a serem salvos dessa triste realidade que 18 de maio marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data lembra o caso da menina Araceli Crespo de apenas 8 anos, que foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada na cidade de Vitória (ES) nesse mesmo dia, no ano de 1973. Assim, em diversas cidades do país serão realizadas iniciativas da 23ª edição da Campanha “Faça Bonito. Proteja nossas crianças e adolescentes”. No Grupo SADA, apoiador da campanha, a quinta-feira vai marcar uma série de atividades, como conscientização dos colaboradores, distribuição de flyers e ações de sensibilização para o tema. A ação vai envolver, inclusive, os motoristas da empresa, para que eles ajam como verdadeiros protetores dos pequenos nas estradas – locais em que essas vítimas podem também ser encontradas, mas nem sempre são vistas na escuridão da noite e do próprio mal que as atinge.
Titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente de Belo Horizonte, a delegada Larissa Mayerhofer afirma que as ações de conscientização são de suma importância para estimular as denúncias. Além disso, conforme ela frisa, a situação é menos óbvia e aparente do que se imagina. Não existe um “perfil específico” de abusador e nem de vítimas, o que torna a necessidade de atenção ainda mais evidente.
“A gente percebe pelas investigações que não existe um perfil específico de abusador. Isso permeia a sociedade de forma geral. Não influencia se as pessoas têm mais ou menos condições financeiras, por exemplo. A questão é que as vítimas são vulneráveis, muitas vezes não têm condições, pela idade, de compreender que estão sendo vítimas de violência. Além disso, o agressor costuma se valer da condição de familiar, de quem está perto, para impor medo”, diz ela.
Coordenadora de responsabilidade social do Grupo SADA, Elisa Dias afirma que as ações de conscientização são fundamentais para que as pessoas entendam o que é a exploração sexual e se engajem no enfrentamento dessa prática com crianças e adolescentes. “Esse é um dia importante, pois temos visto que com essa conscientização mais pessoas têm se sentido seguras para trazerem os seus relatos. Várias pessoas já nos trouxeram testemunhos de que foram abusadas por pessoas próximas do seu convívio.”, diz ela.
Um dos beneficiados pelas ações do Grupo SADA neste dia de combate à exploração sexual são os Centros de Referência da Assistência Social (Cras). Nos locais, há mobilização sobre o tema, com conversas sobre a importância de todos ajudarem a acabar com esse mal, compartilhamento de estatísticas, entre outros. Coordenadora do Cras Citrolândia Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, Dilena Rosa também lembra que não são somente os adultos que devem ser conscientizados, mas também as próprias crianças e adolescentes, para que elas saibam identificar o que é abuso e busquem ajuda. E é também nessa frente que o Grupo SADA atua.
“A exploração sexual é uma violação grave dos direitos humanos e pode ter consequências irreversíveis, irreparáveis, para as vítimas. Por isso, a importância de ações de combate à exploração sexual. É importante porque ajuda a educar e a conscientizar o público sobre os perigos dessa prática. Isso pode ajudar a prevenir a exploração sexual e garantir que as pessoas saibam como se proteger e aos outros”, afirma.
Não só neste dia 18, mas durante todo o ano, o Grupo SADA atua como mantenedor do Programa na Mão Certa, lançado em 2006 pela Childhood Brasil. O objetivo é proteger as crianças e adolescentes contra o abuso e a exploração sexual nas rodovias brasileiras. Como os motoristas da empresa estão nas estradas todos os dias, eles são orientados a identificarem práticas criminosas e as denunciarem.
“Convidamos os motoristas para terem esse olhar diferenciado. Eles vão a locais que, muitas vezes, ninguém mais chega. Estamos fortalecendo essa cultura de que eles podem ser as pessoas que ajudam as crianças e adolescentes, para que diminuam esses casos de exploração sexual. Há relatos de condutores, por exemplo, de que muitos pequenos são explorados pelos próprios pais, que os oferecem até em troca de cestas básicas”, diz Elisa Dias.
As ações de sensibilização neste dia 18, portanto, estão sendo feitas também nas estradas, em 20 postos nas principais rotas de exploração sexual em rodovias brasileiras. Além de afixação de faixas, estão sendo distribuídos mais de 10 mil flyers educativos.
Proprietário de um posto de combustível na BR-153, em Goiânia, Murilo Batista é um dos empreendedores envolvidos na ação. Ele frisa que as crianças e adolescentes precisam de ajuda e que todos podem e devem contribuir.
“Esse é um assunto de muita importância para todos. Temos que ajudar nesse sentido. Para muitas pessoas, a exploração sexual de crianças é algo distante, justamente porque elas não têm o conhecimento sobre o assunto. É preciso lutar por esses indefesos que são abusados. Tem de existir pessoas de coração bom para defendê-los, já que muitas vezes essas crianças não têm quem as proteja”, diz ele.
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Fonte: O Tempo