ANÁLISE

Entenda como os Correios entraram em crise

Correios entram em reestruturação profunda após prejuízos bilionários e crise estrutural

Publicado em 30/12/2025 às 09:11Atualizado em 30/12/2025 às 09:15
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Os Correios atravessam uma das fases mais críticas de sua história recente, marcada por prejuízos bilionários, modelo de negócios defasado e forte pressão por resultados. Diante do agravamento da situação financeira, a estatal anunciou um amplo plano de reestruturação que inclui fechamento de agências, programas de demissão voluntária, revisão de benefícios, venda de ativos e até a possibilidade de mudanças no modelo societário nos próximos anos.

A crise tem origem estrutural. A queda acelerada no envio de cartas, principal fonte histórica de receita, acompanha a digitalização das comunicações e dos serviços públicos e privados. Ao mesmo tempo, a expansão do comércio eletrônico expôs fragilidades operacionais dos Correios, que perderam espaço para empresas privadas mais eficientes, tecnologicamente avançadas e com estruturas de custo mais flexíveis. A perda do monopólio no transporte de encomendas, em 2009, e a redução da demanda por serviços ainda exclusivos, como cartas e malas diretas, aprofundaram o problema.

Entre janeiro e setembro de 2025, a estatal acumulou prejuízo próximo de R$ 6 bilhões e encerrou o período com patrimônio líquido negativo de R$ 10,4 bilhões. As despesas anuais giram em torno de R$ 23 bilhões, sendo cerca de dois terços destinados à folha de pagamento. Mesmo em meio às dificuldades, a empresa concedeu reajuste salarial linear de 4,11% em 2024, manteve benefícios acima da média do mercado e realizou concurso público para mais de 3 mil vagas ainda não preenchidas. Investimentos em veículos elétricos e tecnologia, feitos em um momento de fragilidade financeira, também pressionaram o caixa.

Nesta segunda-feira (29), os Correios detalharam um plano que prevê o fechamento gradual de cerca de 16% das agências próprias, aproximadamente mil unidades, com o objetivo de economizar R$ 2,1 bilhões. Atualmente, a empresa possui cerca de 6 mil agências próprias e outros 10 mil pontos de atendimento operados por meio de parcerias. A direção afirma que o processo não comprometerá a obrigação legal de atender todo o território nacional.

O plano inclui ainda dois programas de demissão voluntária, previstos para 2026 e 2027, que podem reduzir o quadro em até 15 mil funcionários e gerar economia anual de aproximadamente R$ 2,1 bilhões com pessoal. A meta é cortar cerca de R$ 5 bilhões em despesas até 2028. Também estão previstas a revisão de benefícios considerados financeiramente insustentáveis, como planos de saúde e previdência e a venda de imóveis, com expectativa de arrecadar cerca de R$ 1,5 bilhão.

Outro fator de pressão é o plano de saúde dos funcionários, do qual a empresa é mantenedora integral e responsável pelos riscos e passivos. Apesar de haver autorização estatutária para migração para um modelo menos oneroso, a mudança foi revertida. Soma-se a isso a falta de controle preciso sobre ações judiciais, especialmente trabalhistas, o que gerou ressalvas no balanço e aumento expressivo dos gastos com precatórios nos últimos trimestres.

Para garantir a continuidade das operações, o governo federal decidiu apoiar a estatal com um empréstimo de R$ 12 bilhões, considerado uma solução emergencial. A cobrança de impostos sobre encomendas internacionais de até US$ 50, em vigor desde agosto de 2024, também impactou negativamente a receita ao eliminar a exclusividade dos Correios nessas importações.

A partir de 2027, a direção estuda mudanças no modelo societário, incluindo a possibilidade de abertura de capital, mantendo o controle estatal. Segundo a empresa, o objetivo do plano é assegurar a sobrevivência dos Correios e preservar seu papel estratégico na integração nacional e na logística do país, ainda que os efeitos mais relevantes das medidas só devam ser sentidos ao longo da próxima década.

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