As exportações de café brasileiro aos Estados Unidos despencaram 20% em outubro, em comparação ao mesmo período do ano passado. O balanço foi divulgado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) nesta quarta-feira (12/11) e, segundo a entidade, a redução da oferta dos grãos cultivados do Brasil no país tem alterado o paladar dos norte-americanos.
Conforme o Cecafé, as exportações brasileiras somaram 4,141 milhões de sacas de 60 kg em outubro, volume que implica queda de 20% em relação aos 5,176 milhões aferidos no mesmo período em 2024. Em receita, o desempenho é inverso, com os ingressos crescendo 12,6% no mesmo comparativo, para US$ 1,654 bilhão.
“O recuo das exportações era aguardado, principalmente por virmos de remessas recordes em 2024 e de uma safra com menor potencial produtivo. O cenário foi agravado, contudo, pela infraestrutura defasada nos portos brasileiros, que segue impossibilitando o embarque de centenas de milhares de sacas, e pelo tarifaço de 50% imposto pelos EUA, que diminuiu sobremaneira os embarques para esta nação. Já a receita maior reflete as também maiores cotações no mercado internacional”, explica o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira.
O Cecafé calcula que desde o início do tarifaço, em agosto, o mercado norte-americano adquiriu 983.970 sacas, o que representa uma queda de 51,5% ante os 2,030 milhões aferidos nos mesmos três meses de 2024.
“O Brasil sempre foi o produtor mais competitivo e é o principal provedor ao mercado de café dos EUA, mas a taxação de 50% torna inviável o envio do produto para lá. Esses embarques que temos observado são de contratos antigos”, acrescenta Ferreira. Segundo ele, a redução nos embarques de grãos aos Estados Unidos têm resultado em cafés com blends sem produtos brasileiros no mercado americano, abrindo caminho para um problema futuro.
Atualmente, os Estados Unidos também importam café do Vietnã e da Colômbia. “Isso muda o paladar do consumidor. Se as tarifas demorarem mais a cair, pode ser difícil o Brasil recuperar sua fatia tradicional no mercado cafeeiro dos EUA, que é de aproximadamente um terço”, analisa.
Alívio?
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse em uma entrevista, nessa terça-feira (11/11), que o país vai reduzir algumas tarifas sobre o café importado de outros países. A declaração foi dada em entrevista ao programa The Ingraham Angle da Fox News.
"Nós vamos baixar algumas tarifas sobre o café, e vamos ter algum café entrando [nos EUA]", disse. O republicano não mencionou a magnitude da redução nem quais países seriam beneficiados. O Brasil, um dos principais fornecedores do grão para o país, é alvo de uma sobretaxa de 50% desde agosto.
O Cecafé lembra que, atualmente, o café está na seção 3 da ordem executiva assinada pelo presidente americano Donald Trump, que inclui recursos naturais não produzidos pelos EUA, mas que depende de acordo bilateral entre os países para valer e desonerar o produto das taxas.
A entidade cita que o objetivo é transferir o produto para a seção 2, para garantir imposto zerado sobre a importação. “Para isso, temos intermediado conversas entre os torrefadores americanos e a embaixada brasileira em Washington e, consistentemente, acionado o governo brasileiro. Ontem (11) mesmo enviamos ofícios ao presidente Lula e ao vice Geraldo Alckmin informando sobre as negociações conduzidas pelos importadores americanos com o governo Trump”, complementa.
Ferreira revela que a indústria cafeeira norte-americana recebeu indícios de que a Casa Branca quer retirar as tarifas sobre os cafés do Brasil, principalmente pela necessidade do produto nacional e pela inflação sobre o produto no mercado local, mas depende de sinalização positiva do Palácio do Planalto sobre as condições desejadas.
“Nossos pares informaram que o governo Trump deseja isentar o café do tarifaço e que isso pode ser negociado de forma isolada, sem considerar outros produtos. A bola está com o governo brasileiro, que precisa entender isso e negociar a isenção do café isoladamente, sem considerar o pacote com outros produtos. Agora, portanto, é uma questão de querer e fazer. Muito melhor conseguir avanços paulatinos do que deixar tudo travado por querer negociar o todo e não evoluir em nada”, pontua o presidente do Cecafé.
Fonte: O Tempo.