Morre arquiteto criador do conceito de “cidades-esponja”, em acidente aéreo no Pantanal

A morte do arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu, reconhecido mundialmente como um dos maiores nomes da arquitetura contemporânea e criador do conceito de “cidades-esponja”, foi confirmada nesta quarta-feira (24). Ele estava a bordo de uma aeronave de pequeno porte que caiu na zona rural de Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, na noite de terça-feira (23). Não houve sobreviventes.

De acordo com a Comissão de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), Yu havia vindo ao país para participar da Bienal de Arquitetura e, em seguida, seguiu em missão ao Pantanal para conhecer a região. Além do arquiteto, morreram no acidente o piloto e proprietário da aeronave, Marcelo Pereira de Barros, e os documentaristas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr.. Amigos de Ferraz relataram que o grupo gravava um documentário sobre o conceito de cidades-esponja.

A aeronave, um modelo Cessna, prefixo PT-BAN, caiu na Fazenda Barra Mansa, área turística que recebe visitantes brasileiros e estrangeiros. Segundo a polícia, o avião explodiu ao atingir o solo e os corpos foram carbonizados. Equipes do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) e do Corpo de Bombeiros trabalham no local. As causas do acidente ainda serão investigadas.

Um legado inovador

Nascido em 1963, na vila de Dongyu, província de Zhejiang, China, em uma família de agricultores, Yu foi professor da Universidade de Pequim e diretor do escritório Turenscape, um dos maiores do mundo na área de arquitetura paisagística. Formado pela Universidade Florestal de Beijing e doutor pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, ele dedicou a carreira a integrar natureza e urbanismo.

Criador do conceito de “cidades-esponja”, Yu defendia soluções naturais para lidar com enchentes e chuvas intensas, permitindo que a água fosse absorvida pelo solo em vez de ser expulsa rapidamente por meio de concreto, canos e bombas. “Vivi 17 anos como agricultor, isso me ensinou como trabalhar com a natureza”, disse em entrevista ao Fantástico em 2023.

A ideia ganhou força após as enchentes de 2012 em Pequim, que deixaram quase 80 mortos. Enquanto diversos pontos da cidade foram alagados, a Cidade Proibida, construída séculos antes com sistemas de drenagem naturais, permaneceu seca. O episódio reforçou as críticas de Yu ao modelo urbano convencional e impulsionou o governo chinês a investir em larga escala em cidades-esponja.

Yu projetou obras em mais de 70 cidades, tornando-se também consultor do governo chinês. Segundo a revista Fapesp, em seus projetos premiados ele aplicava soluções baseadas na natureza para absorver, limpar e reutilizar as águas pluviais e fluviais. Hoje, algumas dessas cidades são capazes de receber volumes de chuva superiores aos registrados no Rio Grande do Sul em 2023.

Reconhecimento internacional

A atuação de Yu o consolidou como referência global em urbanismo sustentável. Seu escritório, fundado em 1998, é considerado um dos maiores do mundo em arquitetura paisagística. Ele deixa como legado a transformação de áreas urbanas em territórios mais resilientes frente às mudanças climáticas.