A bandeira do arco-íris é um dos principais símbolos da população LGBTQIAPN+ há quase meio século e, no Dia do Orgulho, celebrado todo 28 de junho, é ainda mais presente. Criada nos EUA, ela se tornou sinônimo de diversidade mundialmente, mas não é a única a representar os diferentes grupos que fazem parte da sigla. Há bandeiras específicas para cada letra, e assim lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, por exemplo, têm suas próprias combinações de cor para representá-los
A original foi criada em 1978 pelo designer Gilbert Baker, em São Francisco. Aos 27 anos, ele era amigo de Harvey Milk, vereador da cidade que foi o primeiro homem abertamente gay a ser eleito para um cargo público nos EUA. Milk o desafiou a desenhar um símbolo para a Parada do Orgulho da cidade e, assim, surgiu a bandeira.
Inicialmente, ela tinha oito cores, em vez das seis atuais — perdeu um dos tons de azul e o rosa devido a questões técnicas de reprodução. A variedade de tons, além de lembrar algo tão natural quando o arco-íris, também representa a diversidade, segundo Baker. Ele bebeu, ainda, da inspiração da bandeira norte-americana, utilizada massivamente em festividades.
“Essa influência veio a mim quando decidi que deveríamos ter uma bandeira, que uma bandeira nos serve como símbolo e que somos um povo ou uma tribo, se você quiser ver dessa forma. E bandeiras são sobre reclamar o poder para si, então ter uma é bem apropriado”, aprofundou Baker em uma entrevista ao Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), que detém a bandeira original. O artista morreu em 2017, aos 65 anos.
Hoje, ela ultrapassou as barreiras nacionais e é reconhecida em diferentes países e culturas. “Ela emerge como uma resposta à marginalização de pessoas LGBTQIAPN+ e se constitui como um elemento que representa unidade, orgulho e, sem sombra de dúvidas, visibilidade global. Transcende fronteiras e cria linguagens compartilhadas em diferentes lugares e contextos — periféricos, rurais, urbanos. Talvez por isso ela seja tão conhecida”, reflete o doutorando em psicologia e membro do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBTQIAPN+ (NUH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Robson Costa.
A professora da UFMG e coordenadora do Grupo de Estudos em Lesbianidades (GEL), Joana Ziller, pontua que a bandeira também serve a uma função prática. “É muito importante que a comunidade possa se reconhecer e ser reconhecida. Com frequência, esses símbolos são usados para dizer às pessoas que elas estão em um lugar seguro”.
Além da bandeira do arco-íris, outro símbolo comum é a Bandeira do Progresso. Criada em 2018 e desde então atualizada, ela incorpora outras cores e figuras e inclui os tons de rosa e azul da bandeira trans, o marrom para lembrar minorias raciais, o círculo roxo utilizado por pessoas intersexo e o preto para lembrar as pessoas LGBTQIAPN+ mortas na epidemia de HIV/Aids dos anos 80 e 90.
A professora Joana Ziller pondera que um símbolo que unifica a população LGBTQIAPN+ é importante, mas que ter diferentes bandeiras para cada grupo é uma forma de dar relevo a demandas específicas de cada um. “Não dá para achar que as opressões, discriminações e violências que atingem as pessoas lésbicas, por exemplo, são as mesmas que atingem as pessoas trans ou mesmo bi. Trata-se de identidades específicas, com questões específicas, que precisam de ações específicas dos governos e também o reconhecimento social das violências e da respeitabilidade, que são específicas”, enfatiza.
Não há consenso sobre todas as bandeiras — não existe, afinal, uma entidade responsável por oficializar qual será adotada por cada grupo. A bandeira lésbica, por exemplo, é frequente território de disputa, e diferentes movimentos reivindicam o protagonismo de uma ou outra opção. Nesta reportagem, foram selecionadas as bandeiras utilizadas mais comumente e listadas pelo Humans Rights Campaign (HCR), maior organização de direitos da população LGBTQIAPN+ dos EUA.
Fonte: O Tempo.