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Páscoa de 2025 chega com ovos menores, com menos chocolate e mais caros devido à alta do cacau

África concentra produção da matéria-prima, e mudanças climáticas afetam cultura

Gabriel Rodrigues e Simon Nascimento
Publicado em 09/03/2025 às 09:12
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Confeiteira Ana Paula Souza, da Cia do Sabor, planeja um cardápio de Páscoa que mistura chocolate e biscoitos amanteigados (Foto: Flavio Tavares/O Tempo)

Confeiteira Ana Paula Souza, da Cia do Sabor, planeja um cardápio de Páscoa que mistura chocolate e biscoitos amanteigados (Foto: Flavio Tavares/O Tempo)

Pelo menos desde fevereiro, o consumidor encontra ovos de Páscoa em Belo Horizonte e região. Quem ainda não se atentou ao preço nas parreiras pode se assustar na hora de comprar. O chocolate não escapa à inflação dos alimentos — na verdade, a supera —, e o consumidor deve encontrar opções mais caras em 2025. Na raiz do problema, está a crise global de abastecimento de cacau que afeta desde as grandes marcas do mercado aos produtores artesanais.

No acumulado de 12 meses em janeiro, o preço dos chocolates em barra e bombons aumentou 14,31%, quase o dobro da inflação de 7,25% dos alimentos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número reflete uma média, e alguns itens essenciais para os fabricantes de ovos da Páscoa tiveram uma alta muito superior.

É o que atesta a gerente comercial da Maria Chocolate, um dos principais pontos de venda do mercado em BH, Ana Paula Santos. “As barras grandes aumentaram quase 100%. Nas barras pequenas, no supermercado, a indústria vem repassando o aumentos aos pouquinhos. Todo mundo está buscando uma forma de diminuir a quantidade de chocolate utilizada, como usar biscoito. Outra tendência são os ovos de 50g, do tamanho de um ovo de galinha mesmo”, diz ela.

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) prevê uma alta na casa de dois dígitos sobre os ovos de Páscoa. “Mas não será nada absurdo, como um aumento de 50% ou 70% [sobre o preço dos ovos]. A indústria faz uma ginástica para que o preço caiba no bolso do consumidor”, diz o vice-presidente jurídico e de assuntos públicos da Nestlé, e presidente do conselho diretor da Abia, Gustavo Bastos. Tudo isso devido ao valor de cotação do cacau, que experimentou uma alta de 189% nos últimos 12 meses, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). 

O aumento está ligado a questões climáticas adversas e crise sanitária na África, continente onde estão concentrados 70% da produção de cacau, principal matéria-prima do chocolate. O cenário reduziu a oferta mundial do fruto e, consequentemente, reflete-se no preço.

A presidente da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), Anna Paula Losi, detalha que a produção mundial de cacau está concentrada na região da Costa do Marfim e de Gana, onde houve queda de produção ao longo de 2024. “Isso ampliou o déficit global na oferta de amêndoa de cacau. Como a relação de oferta e demanda ficou desequilibrada, com uma oferta muito menor do que a demanda, as cotações nas bolsas começaram a ter altas elevadas, impactando todo o mercado, inclusive o Brasil”, explica Losi. 

No Brasil, lembra ela, há produção de cacau — o país é o sexto maior produtor do mundo, com uma média de 200 mil toneladas, e também exporta. Entretanto, existe uma dependência de importação de cerca de 100 mil toneladas para abastecer a indústria local. “O problema de oferta é global e impactou todos os mercados. Não é possível fazer uma previsão sobre a evolução dos preços do cacau no mercado global e tampouco no mercado brasileiro. Ainda que algumas regiões, como o Brasil, apresentem possibilidades de uma safra melhor neste ano e os mercados já apresentem sinais de queda na demanda e consumo, as premissas de mercado continuam com uma oferta menor do que a demanda”, completa Losi.  

A indústria do cacau realiza investimentos no Brasil e no exterior, reforça a presidente da associação, mas os aportes levam tempo para surtir efeitos no volume ofertado. “Então é necessário esperar um pouco mais para ter clareza sobre como o mercado global de cacau se comportará em médio e longo prazo”, sublinha.

Produtores artesanais e grandes marcas contam estratégias para lidar com aumento do cacau

A aposta dos pequenos produtores e das gigantes do mercado é que, mesmo com o aumento do preço dos ovos, o consumidor continuará a comprar, nem que seja necessário recorrer a opções diferentes dos anos anteriores. Uma das tendências é o “chocobakery”, união de chocolate com biscoito. “É uma opção que o consumidor tem de continuar consumindo seu chocolate, com um pouco menos da presença de cacau, para que não haja um impacto tão forte sobre os preços”, diz o presidente do conselho diretor da Abia, Gustavo Bastos.

“Temos demanda por produtos de Páscoa, porque é uma tradição muito forte no Brasil. Viemos aconselhando os produtores a buscar alternativas para trabalhar o preço. Vai haver clientes que comprarão o tradicional mesmo caro. Mas outros vão querer presentear, mas com um tíquete médio menor”, reflete a analista do Sebrae Minas Simone Lopes. “Pode-se cortar outros itens, como a embalagem, ou cortar alguns ingredientes e rechear com outra coisa que não chocolate. É necessário fazer uma engenharia de cardápio”.

Com os aumentos do chocolate ao longo do último ano, a confeiteira Glaucimar Rickli, da Trufas Rickli, precisou aumentar o preço médio de seus produtos em cerca de 20%, mas planeja segurar essa alta para que ela não seja tão elevada na Páscoa. “Eu pagava cerca de R$ 35 no quilo do chocolate e, hoje, pago R$ 60, R$ 70”, diz. No último ano, ela diz já ter notado mudanças nas encomendas que devem se aprofundar em 2025. “As minhas vendas sempre foram de ovo de meio quilo, mas hoje têm sido de 200 g. Muitos clientes que pediam o de meio quilo dão a desculpa de que não estão comendo muito chocolate e pedem o de 100 g. Mas eu sei que é o preço”.

Mais uma alternativa dos confeiteiros artesanais é abandonar o chocolate completamente em algumas receitas e apostar em outros símbolos da Páscoa, como as ilustrações de coelhos e cenouras. “Estou com a ideia de fazer biscoitos amanteigados decorados com pasta americana. Vou trabalhar com coisas mais acessíveis e baratas. Estou com uma boa expectativa, mesmo com o aumento do chocolate, porque as pessoas não deixam de comprar e presentear”, conclui a confeiteira Ana Paula Souza, da Cia do Sabor.

As gigantes da indústria, como a Lacta, da Mondelez, também se atentam à alta do cacau. "Nosso portfólio diversificado, com opções para todos os perfis de consumidores e ocasiões de consumo, reflete nosso compromisso em oferecer acessibilidade e manter a competitividade dos produtos, minimizando a transferência dos custos para os consumidores", diz a marca, em nota. Ela cita um levantamento da empresa de inteligência de mercado Kantar que mostra que o consumo de itens da linha regular, como as barras de chocolate, tem ampliado a participação na Páscoa.

Fonte/ O Tempo

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