Estudo da Nexus mostra que, em 70% das ocorrências, havia crianças entre as testemunhas
Nos últimos 12 meses, pelo menos 3,7 milhões de brasileiras viveram episódios de violência doméstica ou familiar. Dessas, 71% foram agredidas na frente de outras pessoas. Em 70% dos casos, havia crianças (geralmente filhos das vítimas) entre as testemunhas e, em 40% das situações, ninguém que presenciou as agressões ofereceu ajuda. Os dados constam na 11ª edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada em 2025 pelo Instituto DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV).
Trata-se da maior pesquisa sobre violência contra mulheres feita no Brasil. A edição deste ano teve como população-alvo mulheres com 16 anos ou mais, residentes no Brasil. No total, foram 21.641 entrevistas. A pesquisa contribui para a atualização do Mapa Nacional da Violência de Gênero, plataforma pública criada para ampliar a compreensão sobre a violência contra mulheres no Brasil.
"Essa foi a primeira vez em que a pesquisa investigou a presença de outras pessoas no momento da agressão. O fato de 71% das mulheres serem agredidas na frente de outras pessoas, e, dentre esses casos, 7 em cada 10 serem presenciados por, pelo menos, uma criança, mostra que o ciclo de violência afeta muitas outras pessoas além da mulher agredida", diz Marcos Ruben de Oliveira, coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado.
O levantamento revela que mais da metade das mulheres agredidas (58%) convivem com situações de violência há mais de um ano, o que evidencia a persistência do ciclo de agressões e a dificuldade de rompimento desses vínculos, conforme análise da Nexus.
Busca por ajuda
A pesquisa ainda analisou o comportamento das mulheres ao buscar ajuda nos casos de agressão. O estudo mostra que a maioria não recorre diretamente às proteções do Estado, mas a familiares, amigos e igreja.
De acordo com a estudo, em 2025, 58% das mulheres buscaram apoio na família, 53% recorreram à igreja e 52% contaram com amigos, antes mesmo de procurar ajuda junto ao poder público. Apenas 28% registraram denúncia em Delegacias da Mulher e 11% acionaram o Ligue 180, central de atendimento à mulher. Entre recortes de fé, 70% das evangélicas procuraram amparo religioso, enquanto 59% das católicas recorreram a familiares.
A pesquisa mostra ainda que 67% das brasileiras conhecem pouco a Lei Maria da Penha e 11% desconhecem completamente seu conteúdo. O desconhecimento é maior entre as mulheres com menor renda e escolaridade, justamente as que mais sofrem com a violência contra a mulher.
Além disso, percentual de quem não conhece a lei é muito maior entre brasileiras analfabetas (30%) e que têm apenas o ensino fundamental incompleto (20%) do que entre as mulheres com ensino superior completo (3%) ou incompleto (4%).
Entre as mulheres com renda familiar de até 2 salários mínimos, 13% desconhecem totalmente a lei, mais que o dobro das brasileiras que ganham de 2 a 6 salários mínimos (6%), e 4 vezes mais do que as mais ricas, com renda familiar maior que 6 S.M (3%).
Quanto mais velha, também é maior o desconhecimento sobre a lei: 18% das brasileiras com mais de 60 anos disseram não saber do que se trata. Entre as mulheres de 50 a 59 anos, esse número cai para 14%. Já entre 40 e 49, cai para 8%.
Apesar do desconhecimento sobre a Lei Maria da Penha, 3 em cada 4 brasileiras (75%) acreditam que a lei protege totalmente (27%) ou em partes (48%) as mulheres contra a violência de gênero. Outras 23% acham que não protege.
As mulheres com menor escolaridade, também acreditam menos na proteção legislativa: são 33% das brasileiras não alfabetizadas e 30% das que não completaram o ensino médio que não concordam com a eficácia da lei, contra 15% das mulheres que têm ensino superior completo.
Já quando perguntadas sobre outros mecanismos de proteção para as mulheres, o mais conhecido é a Delegacia da Mulher, com 93% das respostas. Em seguida vem Defensoria Pública (87%), CRAS ou CREAS (81%), Ligue Cento e Oitenta (76%), Casa Abrigo (56%), Casa da Mulher Brasileira (38%) e outros serviços (5%).
Fonte: O Tempo.