CINEMA

Redes sociais devem influenciar no resultado da premiação do Oscar

Filmes sofreram altos e baixos durante a campanha devido à reação de internautas

Paulo Henrique Silva/O Tempo
Publicado em 01/03/2025 às 09:07
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No lugar da inescapável pergunta "quais ingredientes levaram o filme a vencer o Oscar?", a indagação dos analistas da premiação poderia muito bem ser algo do tipo "em que as redes sociais ajudaram ou prejudicaram o filme no Oscar?". Neste ano, a mobilização na internet em função da 97ª edição do maior prêmio da indústria de cinema dos Estados Unidos, cuja solenidade de entrega dos troféus acontece neste domingo, tem sido tão grande que certamente determinará o resultado em muitas categorias.

Filmes que pareciam trilhar um caminho tranquilo em direção aos Oscar sofreram duros golpes durante a campanha. E outros passaram a ser tremendamente incensados, criando uma legião de fãs em torno deles - e, de passagem, contra qualquer outro concorrente. Por isso, neste momento, há tanta dúvida sobre quem será o grande ganhador da noite. Se os votantes seguirem o que foi apontado pelos prêmios dos sindicatos de artistas e técnicos, "the winner is..." provavelmente será "Anora".

Uma escolha que pode ter partido da repercussão negativa em torno de "Emilia Perez", produção francesa dirigida por Jacques Audiard que, há poucos meses, tinha cara de unanimidade, colhendo nada menos que 13 indicações. Mas a carga de bombardeios foi tão grande, especialmente em questões delicadas envolvendo tweets antigos da atriz espanhola trans Karla Sofía Gascón, que os próprios realizadores tiraram de cena aquela que vinha sendo a porta-bandeira do filme.

A internet, por outro lado, ajudou bastante na campanha de Fernanda Torres. Ela virou fenômeno de engajamento antes mesmo do anúncio dos indicados, em novembro, quando a atriz brasileira de "Ainda Estou Aqui" participou do evento "Governors Awards 2024", em Los Angeles. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood publicou a imagem dela em seu perfil no instagram e recebeu nada menos do que 720 mil curtidas e 180 mil comentários em menos de 24 horas.

Um dos personagens do Carnaval brasileiro, com foliões usando adereços ligados a ela, Fernanda virou uma querida no mundo virtual e, evidentemente, a Sony pegou carona nessa divulgação espontânea, levando a filha de Fernanda Montenegro - indicada em 1999 por "Central do Brasil" - a vários programas de entrevistas nos Estados Unidos. A dúvida é o quanto isso favoreceu não só a candidatura da atriz como também de "Ainda Estou Aqui" nos quesitos melhor filme e melhor produção internacional.

Para melhor filme, a missão é difícil, embora não impossível - o exemplo do sulcoreano "Parasita" (2019) ainda está bem recente na memória dos acadêmicos. O longa de Walter Salles sobre a vida de uma família após o pai ser abruptamente retirado de casa pela ditadura pode se tornar uma terceira via interessante, já que "Anora" não tem recebido só sinais de afago. Vem aumentando as críticas sobre a produção de Sean Baker ser misógina e estereotipar as mulheres que trabalham com sexo.
 
"Conclave" também seria uma boa aposta, após ganhar o Bafta e o prêmio do sindicato dos atores como melhor elenco. Além disso, reproduz, a partir da eleição do papa, o que está acontecendo na geopolítica mundial de hoje, com a divisão de progressistas e conservadores ganhando embates nada éticos ou religiosos. Mas também recebeu senões públicos - o bispo Robert Barron, um dos católicos mais seguidos nas redes, vê um foco exacerbado em corrupção, ambição e egoísmo entre os cardeais.

"Emilia Pérez" ainda tem chances? Sim, mas bem poucas, depois do escrutínio que o filme sofreu. Além das mensagens xenófobas postadas por Karla Sofía, a obra também foi acusada de mostrar uma imagem distorcida dos mexicanos (o país é o cenário da trama) e se valer de inteligência artificial para aperfeiçoar o espanhol do elenco. A questão da tecnologia para corrigir problemas linguísticos também paira sobre "O Brutalista", que venceu o Globo de Ouro de melhor filme de drama e direção (para Brady Corbet).

É um épico como não se via há muito tempo, com mais de três horas de duração e realizado com equipamento VistaVision, usado na década de 1950 - ingredientes que dão a "O Brutalista" o charme de um período de ouro do cinema americano. Se o desejo for recuperar o bom e velho cinemão, o filme de Corbet é prato cheio. Se o caminho for oposto, vale colocar as fichas no moderninho "Anora", que se comunica bem com as plateias jovens, assim como o ganhador de 2023, "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo".

O papel das redes sociais é tão relevante na corrida do Oscar que Fernanda Torres rapidamente se explicou quando cenas dela como uma empregada com rosto pintado de preto voltaram ao ar depois de 20 anos. A justificativa e o pedido de desculpas foram bem aceitos e agora a brasileira se vê em segundo lugar para o Oscar de melhor atriz, só perdendo para Demi Moore.  Mas há veículos, como o prestigiado jornal "New York Times", que cravam o nome de Fernandinho como ganhadora.

Além de receber o prêmio do sindicato dos atores, Demi, que concorre por "A Substância", é exemplo de atuação que a Academia gosta de premiar: trabalho iniciado em produções despretensiosas, seguido por momento de ostracismo até ganhar a grande chance de sua vida num papel ousado. É o que aconteceu com Brendan Fraser em 2023, com "A Baleia". Mikey Madison, uma grata revelação de "Anora", corre por fora. Com 25 anos ela tem uma longa carreira ainda por desfrutar.

Entre os atores, tudo leva a crer que Thimothée Chalamet deverá finalmente ganhar o seu mais do que merecido Oscar (por "Um Completo Desconhecido"), após chamar a atenção em um punhado de filmes, de "Me Chame pelo seu Nome" a "Wonka". Nos outros quesitos, os favoritos são Sean Baker ("Anora"), para melhor direção, Kieran Culkin ("A Verdadeira Dor") e Zoe Saldana ("Emilia Pérez"), como ator e atriz coadjuvante, respectivamente."Robô Selvagem" desponta para levar o Oscar de animação.

A boa notícia para os brasileiros é que  "Ainda Estou Aqui" está forte no páreo como melhor produção internacional. Vem aí a inédita e tão sonhada estatueta para o país? Se levarmos em conta a bola murcha do filme de Audiard com as polêmicas nas redes sociais, a resposta deverá ser sim. E nada mais simbólico do que a cerimônia acontecer justamente num dia de Carnaval, festa popular brasileira de grande relevância cultural e econômica. Já está mais do que na hora de o cinema nacional conquistar esse reconhecimento.

Fonte: O Tempo.

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