GERAL

Vivemos como prisioneiros

Paulo Fernando Borges
paulofernando1981@gmail.com
Publicado em 17/07/2011 às 15:52Atualizado em 19/12/2022 às 23:19
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A noite do dia 13 de julho de 2011 vai ficar marcada para sempre na vida de uma família do bairro Jardim São Bento, em Uberaba. Neste dia, por volta de 18h, seis pessoas, sendo três mulheres - de 49, 68 e 82 anos -, um homem de 52 anos e duas crianças - uma de sete e outra de 11 anos -, foram vítimas da ação de marginais, os quais invadiram a residência, causaram momentos de terror, violência e um prejuízo financeiro de aproximadamente R$10 mil. Porém, o prejuízo maior é invisível a olho nu, pois desde então a sensação de insegurança e medo tomou conta do ambiente familiar. Foi com essa angustiante sensação que uma das vítimas, uma professora de 49 anos, relatou ao Jornal da Manhã detalhes dos momentos vividos pela família naquela tarde. Confira!

“Eram mais ou menos 18h05, finzinho do dia. Como sempre, meu esposo, um comerciante de 52 anos, chegou em casa, abriu a garagem, trancou o portão e entrou pela sala, a qual, até então, permanecia de porta aberta.

Logo após, seguindo a rotina, ele foi ficar com um dos nossos filhos, uma criança de sete anos de idade e portadora de necessidades especiais. Enquanto isso, eu fui até a cozinha preparar comida para eles. No entanto, fomos surpreendidos por um grito da minha mãe, de 68 anos, chamando pelo meu esposo. Nessa hora, pensei que fosse algum problema com meu filho, que sofre com crises epiléticas. Não era...

Meu esposo chegou primeiro e logo foi surpreendido pelo bandido, que estava armado e o obrigou a ajoelhar-se. Logo em seguida, o assaltante passou a agredi-lo com fortes tapas na cabeça. Agindo de forma bastante natural, ele ainda se aproximou da minha sogra, de 82 anos, e deixou claro do que se tratava, dizend ‘Isso é um assalto!’.

Depois de perguntar se havia mais alguém em casa, ele, o assaltante, apontando a arma em direção à minha cabeça, passou a questionar onde estava o dinheiro. Como eu disse que não havia dinheiro, ele ordenou que abríssemos o portão para que seus companheiros entrassem na residência.

Como eu fiquei olhando demais para o rosto deles, o bandido que invadiu a casa me agrediu com tapas na cabeça e ordenou que eu olhasse apenas para o chão. Durante todo o tempo eles trocavam informações com uma quarta pessoa, a qual, suponho, monitorava o movimento nas imediações da residência.

Daí em diante, eles invadiram os quartos, reviraram as gavetas, armários e nos trancaram em um dos quartos. Nesse instante, o telefone tocou, já que, ao pular o muro, o primeiro bandido danificou a cerca elétrica e acionou o alarme. Por causa, disso, o trio se desesperou por acreditar que havíamos sido nós que ligamos para a polícia. Foi então que eu disse: ‘Se vocês forem espertos, caiam fora, pois a polícia [o quartel] fica aqui perto e já deve estar a caminho!’.

Mesmo nervosos, eles ainda tiraram as joias que nós usávamos, nos deixaram trancados no quarto, e um deles foi até o outro quarto e efetuou um disparo contra o chão, acredito que para nos intimidar.

Logo em seguida, pegaram a chave do carro, encheram-no com tudo o que conseguiram e, no desespero para fugir, danificaram o portão eletrônico, já que a abertura automática é lenta.

Tudo isso não demorou mais de 30 minutos. Durante todo o tempo eu fiquei anestesiada e não me senti nervosa. Mas, na madrugada, acabei indo parar no hospital, com a musculatura enrijecida e muito abalada. Até hoje estou sob o efeito de medicamentos.

A Polícia Militar chegou rapidamente e no mesmo dia conseguiu recuperar o carro e alguns objetos. Mas, cerca de R$3 mil em objetos não foram recuperados. Os bandidos ainda estão foragidos. O que importa, porém, é que nenhum de nós se feriu.

(...)

É uma sensação péssima. Todos os dias, quando se aproxima das 18h, meu coração começa a palpitar, estou cismada. Estamos todos abalados. Meu marido precisa trabalhar, mas, devido à preocupação, liga o dia todo para saber se estamos bem. A família ficou paranoica. Não quero que isso aconteça com outras pessoas.

Antes, eu conhecia essa situação apenas pelo noticiário da TV e jornais. Achava que estava tudo bem, mas não está nada bem. Saía livremente com meu filho todos os dias para tomar sol e, agora, acabou. Estamos vivendo como prisioneiros...

Fico pensando nas mães desses jovens, a tristeza e agonia que elas sentem. Penso também se a PM vai judiar deles quando os capturar. Penso no lado mãe, pois não quero que aconteça nada de mau para o filho dos outros. Mas, infelizmente, cada um procura o seu caminho.”

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