Nesta quarta-feira (25), o delegado responsável pelo caso, Rafael Jorge, disse que aguarda apenas a conclusão do laudo do Instituto Médico Legal (IML) para finalizar o inquérito. De acordo com ele, quase todas as testemunhas ligadas ao caso já foram ouvidas. Além disso, o laudo da perícia sobre o estado da ambulância também foi finalizado e apontou que o veículo estava em bom estado de conservação.
"Segundo o perito, os equipamentos tinham algumas proteções, e essas proteções realmente impedem os equipamentos de caírem. Se estiver tudo bem fixado, bem colocado no lugar, não cai", afirmou.
Conforme Rafael Jorge, câmeras de segurança também flagraram o momento em que o acidente pode ter ocorrido e negou que o motorista tenha feito alguma manobra brusca, conforme havia sido inicialmente apontado pela Prefeitura de Sacramento. As imagens devem auxiliar nas investigações.
"Foi uma curva normal, que todo carro ali naquela esquina vira mesmo. No local, existe uma passarela elevada de pedestres, e ela é alta. Quando você passa de carro lá, o carro dá uma baita de uma balançada mesmo, e a ambulância, por ser grande, balança mais ainda", acrescentou.
Ainda segundo a Polícia Civil, a expectativa é que o inquérito seja concluído nas próximas duas semanas. Com o fim das investigações, será avaliado se há responsáveis pela morte de Kamily ou se ela morreu por conta das complicações clínicas.
A Polícia Civil de Minas Gerais e a Prefeitura de Sacramento estão investigando os acontecimentos que levaram à morte da grávida, após se acidentar em uma ambulância, desde o dia 18 de janeiro.
Após o acidente, o motorista completou o trajeto até o HC-UFTM. A jovem chegou à unidade ainda com vida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Já o bebê foi salvo e passa bem.
Ela foi transferida da Santa Casa de Misericórdia de Sacramento para o HC-UFTM no dia 10 de janeiro após um quadro de hipertensão e crises convulsivas. Segundo o Hospital, a paciente foi recebida na unidade naquele dia com "eclâmpsia e traumatismo craniano".
"Os prontuários dos pacientes não registram circunstâncias pregressas às internações, como detalhes sobre incidentes que possam ter causado ferimentos. Como amplamente noticiado pela imprensa, trata-se de ocorrência envolvendo o transporte providenciado pelo município de origem, não havendo qualquer relação entre o hospital e o acidente", completou a nota.
Também no dia 18, a Secretaria de Saúde de Sacramento, cidade responsável pela ambulância, havia declarado que atribuir a morte da jovem apenas à queda do equipamento era um "equívoco".
"Até o presente momento, sem análise de exames de imagem e laboratoriais realizados no Hospital de Clínicas da UFTM, não é possível avaliar até que ponto o acidente ocorrido durante o transporte teve influência sobre o desfecho final" , informou a nota assinada pelo médico auditor Marcelo Sivieri, designado pela Prefeitura para acompanhar o processo.
Leia a nota da Prefeitura de Sacramento na íntegra:
"Em relação ao atendimento da paciente K.P.F.O., no dia 10/01/2023, no Pronto Atendimento da Santa Casa de Misericórdia de Sacramento, após uma análise preliminar, vimos por meio desta esclarecer alguns pontos:
1- A paciente em questão, gestante de 33 semanas, deu entrada no Pronto Atendimento às 7h42min, oriunda do PSF do bairro onde reside, com quadro de hipertensão e crises convulsivas e foi submetida ao atendimento inicial de urgência pelos dois médicos que estavam de plantão na unidade;
2- Na chegada, a paciente foi monitorada, recebeu oxigênio em máscara, teve acessos venosos puncionados e exames laboratoriais coletados para investigação do quadro;
3- Diante da gravidade do quadro, foi solicitada a presença do obstetra e da pediatra da rede municipal, que compareceram imediatamente à unidade de atendimento e também prestaram os primeiros atendimentos à paciente;
4- Concordante ao quadro clínico apresentado (crises convulsivas associadas a hipertensão arterial, importantíssimos em uma paciente gestante), bem como dos exames laboratoriais realizados que evidenciavam acometimento renal, hepático e redução de plaquetas, foi realizado diagnóstico de Eclâmpsia Grave Complicada com Síndrome HELLP Parcial. O tratamento inicial para tais patologias foi realizado conforme protocolos amplamente difundidos pela literatura médica, com Sulfato de Magnésio conforme esquema de Zuspan, para controle das crises convulsivas e Hidralazina para redução da pressão arterial. Além disso, o batimento cardíaco fetal foi monitorado regularmente, mantendo-se dentro de níveis adequados. No entanto, a paciente não apresentou resposta clínica satisfatória, sendo então solicitado transferência em vaga zero para o Hospital das Clínicas da UFTM para cuidados intensivos em CTI e parto de urgência;
5- Assim que a vaga foi autorizada, a paciente foi transferida em máscara de oxigênio, recebendo medicação de manutenção em bomba de infusão continua, sendo acompanhada por um médico, uma enfermeira e duas técnicas de enfermagem, além do motorista da ambulância;
6- Em um cenário de agitação motora da paciente, bem como manobras realizadas pela ambulância na saída da cidade de Sacramento, ocorreu desprendimento de um monitor cardíaco de seu suporte, com queda sobre a paciente. Ressalta-se que o equipamento estava preso com velcro e rede, além de seus fios próprios. Salienta-se ainda, que uma das técnicas amorteceu sua queda antes do contado com a paciente, que foi avaliada e monitorada pelo médico durante todo o percurso;
7- Assim que chegou ao destino, a paciente foi transferida aos cuidados da equipe de obstetrícia de plantão do HC-UFTM;
8- Cabe ressaltar que os quadros de Eclâmpsia e de sindrome HELLP são de extrema gravidade e que podem, por si sós, causarem complicações como insuficiência renal, hemorragia hepática, edema agudo de pulmão, hemorragia pulmonar, descolamento prematuro de placenta, coagulação intravascular disseminada, hemorragia intracraniana e óbito. Sabe-se que a letalidade materna em casos de síndrome HELLP é de até 25%, e que grande parte destes óbitos (cerca de 26%) ocorre em função de hemorragia intracraniana. A paciente já foi transportada em estado bastante grave, com exames evidenciando acometimento hepático e renal, sem recobrar a consciência em nenhum momento, com pressão arterial extremamente elevada (até níveis de 240x140mmhHg) com baixa resposta à medicação, e apresentando pupilas dilatadas e fixas antes mesmo da transferência, o que já sugeria dano cerebral prévio ao transporte. Portanto, é um equivoco atribuir o trágico desfecho apenas ao lastimável acidente ocorrido, desconsiderando o quadro de base já extremamente grave. Até o presente momento, sem análise de exames de imagem e laboratoriais realizados no Hospital de Clínicas da UFTM, não é possível avaliar até que ponto o acidente ocorrido durante o transporte teve influência sobre o desfecho final;
9- A Secretaria de Saúde do Município de Sacramento, juntamente com a Santa Casa de Misericórdia, lamenta imensamente o fato ocorrido e não medirá esforços para a melhora e aprimoramento no atendimento ao cidadão;
10- Informamos também que as investigações sobre o ocorrido continuarão buscando total esclarecimento de forma mais breve possível".
*Com informações do G1 Triângulo
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