Investigações da operação Lava Jato revelaram esquema de pagamento de propina neste departamento
Investigações da Lava Jato revelaram esquema de suposto pagamento de propina em obra pública por parte de departamento que a AG acaba de reativa. (Foto/EBC)
A construtora Andrade Gutierrez retornou com o departamento interno responsável por gerir as obras públicas em que a empresa opera. A informação foi publicada ontem pelo colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”. A construtora mineira, a exemplo de várias empreiteiras, viu seu nome envolvido na operação Lava Jato, que investigou denúncias de corrupção relacionadas a obras e contratos com a Petrobras.
Durante as investigações da Lava Jato, que ocorreram principalmente entre 2015 a 2019, ex-executivos da empresa, em delações premiadas, revelaram um sistema de pagamento de propina dentro da companhia, envolvendo, justamente, as obras públicas em que a empresa atuava.
Em 2017, ex-executivos da Andrade Gutierrez relataram que a empresa mantinha uma espécie de “tesouraria interna” dedicada a pagamentos de propina e caixa 2 para agentes públicos e políticos.
Naquele período, dirigentes da empresa afirmaram que a empresa doava a políticos dos mais variados partidos. Essa estratégia foi admitida em depoimentos de executivos da companhia.
O pagamento da propina a políticos, conforme as delações, para favorecer a empresa se dava em diversas frentes: ganhar obras públicas, ser beneficiada em decisões dos governos (como a edição de Medidas Provisórias ou a mudança de regras para concessões públicas, por exemplo) e obter vantagens na aprovação de leis no Congresso Nacional.
Na época, as investigações revelaram que entre as obras públicas que receberam suposto pagamento de propina deste “departamento” estavam o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a Ferrovia Norte-Sul e estádios da Copa do Mundo de 2014.
A Lava Jato, na época, revelou que essa estrutura também foi encontrada em outras empreiteiras investigadas pela operação.
Tribunal de Contas
Em 2018, o Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a declarar a inidoneidade da empreiteira, o que resultaria em proibição de participação em obras do governo federal pelo prazo de cinco anos. A decisão do tribunal foi imposta por causa de desvios e superfaturamento nas obras da usina nuclear Angra 3.
No entanto, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a sanção, alegando que a construtora já havia acertado um acordo de leniência (espécie de delação premiada para empresas) com o Ministério Público Federal (MPF) e, por isso, o TCU não poderia considerar a empresa inidônea.
Na época, o ministro do STF afirmou que deixar a empresa sem participar de licitações a prejudicaria de tal forma que poderia impedir o cumprimento do acordo.
A reportagem de O TEMPO procurou a construtora Andrade Gutierrez ontem para comentar a informação sobre o retorno do departamento de obras públicas. Ela também foi questionada se há um direcionamento das atividades da empresa para a volta às grandes obras públicas como principal área de atuação. No entanto, por meio de sua assessoria, a companhia informou que não comentaria o assunto.
Empresa possui pagamento em atraso com MG
A construtora Andrade Gutierrez possui com o governo de Minas Gerais um acordo de leniência, firmado em 2021, no qual deverá ressarcir os cofres do Estado até 2030 o montante de R$ 128,9 milhões a serem pagos em 32 parcelas iguais, como forma de reparação aos prejuízos causados ao Executivo.
No entanto, conforme mostrou O TEMPO, a empresa ainda não pagou a primeira parcela do acordo. O depósito de R$ 4 milhões deveria ter acontecido em 31 de março. Com o atraso, a construtora já acumula uma multa de, aproximadamente, R$ 37,8 mil, sem considerar a correção pela Selic e demais variáveis.
A construtora é acusada de fraudes em licitações em obras da Cemig, da Codemig e da Cidade Administrativa entre 2004 e 2011.
Acordo com Cade sobre aeroportos
A Andrade Gutierrez assinou acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em 2017, para encerrar investigações sobre formação de cartéis em obras de aeroportos. Nesse caso, a empresa se comprometeu a pagar R$ 1,7 bilhão. Em 2018, o Cade homologou acordos milionários com a Andrade e outras empreiteiras.
Na época, o Cade comunicou que a empreiteira e ex-empregados dela reportaram práticas de condutas anticompetitivas por pelo menos 19 empresas.
Fonte: O Tempo