Relatório da PF aponta que o atual “Número 2" da Abin tentou interferir nas investigações que apuram os casos de espionagem ilegal no governo Bolsonaro
A PF cita que Alessandro Moretti teria se reunido com os investigados para dizer que a investigação da PF em curso teria "fundo político e iria passar" (Foto/Tânia Rêgo/Agência Brasil 04.12.2023)
A demissão do diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti, do cargo é dada como certa e a permanência dele no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou “insustentável”, após operação da Polícia Federal (PF) na última quinta-feira (25).
Essa é a avaliação de fontes do primeiro escalão do governo Lula ouvidas, sob reserva, pelo jornal Valor e pelo portal G1. Nesse sentido, a situação de Luiz Fernando Corrêa como diretor-geral da Abin ficou também delicada.
A atual direção do órgão de inteligência, sob o governo do presidente Lula, tentou interferir nas investigações da Polícia Federal sobre o uso do software espião FirstMile durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
Em relatório usado pelo ministro do Supremo do Tribunal Federal Alexandre de Moraes para embasar o despacho em que autorizou a operação de busca e apreensão nos endereços de Ramagem, investigadores da PF avisaram sobre essa interferência.
No documento, a PF afirma que "a direção atual da Abin realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação", o que designa "conluio de parte dos investigados com a atual alta gestão da Abin", causando prejuízos à investigação e também à própria Abin.
Os investigadores ainda citaram Alessandro Moretti teria se reunido com os investigados para dizer que a investigação da PF em curso teria "fundo político e iria passar". Moretti foi o número dois de Anderson Torres quando secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
A declaração foi vista como uma “postura não esperada de Delegado de Polícia Federal que, até dezembro de 2022, ocupava a função de Diretor de Inteligência da Polícia Federal, cuja a Divisão de Operações de Inteligência lhe era subordinada.”
Operação Vigilância Aproximada
A operação Vigilância Aproximada foi deflagrada para investigar o que chamou de “organização criminosa que se instalou" na Abin. O intuito é apurar as denúncias de monitoramento ilegal de autoridades públicas e outras pessoas, utilizando ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis, como celulares, sem autorização judicial.
Foi durante a gestão de Ramagem, entre julho de 2019 e abril de 2022, que a PF identificou o uso de um sistema de geolocalização de dispositivos móveis (GPS) sem a devida autorização judicial por servidores. Uma primeira operação sobre o caso foi deflagrada em outubro de 2023, mas não teve o político como alvo direto.
Fonte: O Tempo