Lula disse ter recebido o país com sério déficit em diversas áreas, conforme, segundo ele, apontado pela equipe de transição de governo
O novo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, faz um discurso após a posse durante sua cerimônia de posse no Congresso Nacional em Brasília, em 1º de janeiro de 2023 (Foto/Mauro Pimentel/AFP)
Em seu primeiro discurso após ser empossado pelo Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma viagem histórica e relembrou sua participação na Constituinte e o seu primeiro mandato há 20 anos. Citou a palavra "mudança", destacada no seu pronunciamento de posse em 2003.
"Quando fui eleito presidente pela 1ª vez, ao lado do José Alencar, iniciei o discurso de posse com a palavra mudança. A mudança que pretendíamos era simplesmente concretizar os preceitos constitucionais. O direito à vida digna, sem fome, com acesso ao emprego, saúde e educação", disse Lula.
O presidente citou realizações dos seus dois primeiros mandatos e afirmou que, diante do avanço da miséria e regressão da fome, é preciso repetir o discurso de 20 anos atrás. Sem citar nominalmente o agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula destacou que o governo adversário destruiu as políticas públicas do País e dilapidou as estatais e os bancos públicos, nos quais os recursos "foram raptados para saciar rentistas".
"O diagnóstico que recebemos do Gabinete de Transição é estarrecedor. Esvaziaram os recursos da Saúde. Desmontaram a Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia. Destruíram a proteção ao Meio Ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança pública", continuou Lula.
Reconstrução
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que assume o compromisso de "reconstruir" o País e resgatar milhões da pobreza e da fome. "É sobre estas terríveis ruínas que assumo o compromisso de, junto com o povo brasileiro, reconstruir o País e fazer novamente um Brasil de todos e para todos", disse Lula.
Ele destacou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aprovada pelo Congresso para viabilizar o pagamento de R$ 600 no Bolsa Família, afirmando que "não seria justo e honesto pedir paciência para quem passa fome". "Diante do desastre orçamentário que recebemos, apresentei ao Congresso Nacional propostas que nos permitam apoiar a imensa camada da população que necessita do Estado para sobreviver. Agradeço à Câmara e ao Senado pela sensibilidade frente às urgências do povo brasileiro Nossas primeiras ações visam a resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, que suportaram a mais dura carga do projeto de destruição nacional que hoje se encerra."
Para Lula, nenhuma nação se ergueu "nem poderá" se erguer sobre a miséria de seu povo. "Este compromisso começa pela garantia de um Programa Bolsa Família renovado, mais forte e mais justo, para atender a quem mais necessita", disse.
Frente ampla
Lula também disse que a frente ampla formada em prol de sua candidatura se consolidou para "impedir o retorno do autoritarismo" ao Brasil.
"A liberdade que sempre defendemos é a de viver com dignidade, com pleno direito de expressão, manifestação e organização. A liberdade que eles pregam é a de oprimir o vulnerável, massacrar o oponente e impor a lei do mais forte acima das leis. O nome disso é barbárie", afirmou.
Política de cotas
O presidente empossado também disse que irá ampliar a política de cotas das universidades e no serviço público. Lula, que irá recriar o Ministério da Promoção da Igualdade Racional, afirmou não ser admissível que negros e pardos continuem sendo a "maioria pobre e oprimida". "Criamos o Ministério da Promoção da Igualdade Racial para ampliar a política de cotas, além de retomar as políticas voltadas para o povo negro e pardo na saúde, educação e cultura", disse em cerimônia no Congresso Nacional.
Lula afirmou que, a partir da refundação do Ministério das Mulheres, o governo irá "demolir este castelo secular de desigualdade e preconceito". "É inadmissível que as mulheres recebam menos que os homens, realizando a mesma função. Que não sejam reconhecidas em um mundo político machista. Que sejam assediadas impunemente nas ruas e no trabalho. Que sejam vítimas da violência dentro e fora de casa", afirmou o petista, para quem a "alma do Brasil" reside na diversidade da população.