A emoção já havia tomado conta de Lula e seus apoiadores quando ele subiu a rampa do Planalto ao lado de representantes da sociedade civil, que, na ausência de Bolsonaro, cumpriram o ritual simbólico da entrega da faixa presidencial
Lula chora, ao lado de Janja, durante discurso ao público (Foto/Evaristo Sá/AFP)
Diferentemente do que ocorreu na solenidade de posse, no Congresso Nacional, perante a centenas de políticos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso carregado de emoção no parlatório do Palácio do Planalto, frente à multidão que o esperava desde as primeiras horas deste domingo (1º), quando ele assumiu a Presidência da República pela terceira vez.
A emoção já havia tomado conta de Lula e seus apoiadores no momento em que ele subiu a rampa do Planalto ao lado de representantes da sociedade civil, que, na ausência de Jair Bolsonaro (PL) – foi para os Estados Unidos antes do fim do mandato – cumpriram o ritual simbólico da entrega da faixa presidencial. Logo em seguida, Lula se dirigiu ao parlatório para o discurso.
“Quero começar fazendo uma saudação especial. Uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que recebia todos os dias do povo brasileiro – representado pela Vigília Lula Livre –, num dos momentos mais difíceis da minha vida. Boa tarde, povo brasileiro!”, afirmou Lula, referindo-se aos apoiadores que foram ao acampamento montado em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no período em que esteve preso por ordem do então juiz federal Sérgio Moro, eleito senador pelo Paraná em outubro.
Em seguida, Lula mandou um recado aos brasileiros que não votaram nele. “Quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos. Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para quem votou em mim. Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado. A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras. O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria.”
Lula começou a se emocionar ao falar da pobreza e da desigualdade, em especial, da volta do Brasil ao mapa da fome. “Recentemente, reli o discurso da minha primeira posse, em 2003. E o que li tornou ainda mais evidente o quanto o Brasil andou para trás. Aqui, nesta mesma praça, assumimos o compromisso de recuperar a dignidade e a autoestima do povo brasileiro – e recuperamos. Mas o principal compromisso que assumimos foi de lutar contra a desigualdade e a extrema pobreza, e garantir a cada pessoa o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar – e nós cumprimos esse compromisso. 20 anos depois, voltamos a um passado que julgávamos enterrado.”
O petista afirmou que “a fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil”. “Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando lixo, em busca de alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo”, observou.
Ele falou que combater a desigualdade no país será sua principal meta. “Assumimos o compromisso de combater dia e noite todas as formas de desigualdade. De renda, de gênero e de raça. Desigualdade entre quem joga comida fora e quem só se alimenta de sobras. É inadmissível que os 5% mais ricos detenham a mesma fatia de renda que os demais 95%.”
Fonte: O Tempo