A solenidade teve que ser adiada para hoje devido aos ataques de vândalos e terroristas os prédios da Praça dos Três Poderes
Posse das ministras da Igualdade Racial, Anielle Franco, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, no Palácio do Planalto (Foto/Manuel Marçal/O TEMPO Brasília)
As ministras da Igualdade Racial, Anielle Franco, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, tomam posse na cerimônia de transmissão de cargos nesta quarta-feira (11).
A solenidade teve que ser adiada para hoje devido aos ataques de vândalos e terroristas os prédios da Praça dos Três Poderes, em Brasília, no último domingo.
A cerimônia conta com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros de Estado, lideranças indígenas e negras.
Povos Indígenas
Após uma série de cânticos indígenas e afro-brasileiros, a ministra Sônia Guajajara (PSOL-SP) foi a primeira a discursar. Ela criticou o que chamou de “plano de genocídio dos povos indígenas” ao destacar como essa população ficou vulnerável nos últimos anos diante dos avanços do garimpo ilegal nos territórios, bem como da falta de políticas públicas de enfretamento a covid-19.
E pediu que não fiquem impunes os responsáveis pela morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillipps, em junho do ano passado, na região do Vale do Javari, na floresta Amazônica.
Em seguida, a ministra defendeu a demarcação de terras indígenas e destacou como elas são importantes para toda a sociedade. “(Elas) representam estabilidade de ecossistemas em todo o planeta, garantindo inclusive a qualidade de vida nas grandes cidades”. “As terras indígenas são grandes aliadas no enfrentamento do combate às mudanças climáticas”, enfatizou.
A ministra fez questão de endossar que os povos indígenas são muito estigmatizados no País e que nem sempre as pessoas percebem que eles são contemporâneos e que têm muito a contribuir para o futuro, uma vez que o planeta é secular.
Sônia Guajajara afirmou que “o Brasil do futuro precisa dos povos indígenas” e que diante da democracia do novo governo, é preciso “semear sementes e corações”.
Ao se dirigir aos ministros e políticos presentes na solenidade, destacou que a pauta indígena é transversal.
Sônia Guajajara parabenizou o presidente Lula por aquilo que classificou como “força e coragem de reconhecer o protagonismo dos povos indígenas” e de criar, pela primeira vez na história do País, um ministério voltado aos povos originários. “Povo esse que resiste há mais de 500 anos, tão chocantes e horríveis quanto o que nós vimos no último domingo em Brasília, porém, com menos visibilidade”.
Guajajara enfatizou a importância de inclusão dos povos originários na educação, como por exemplo, na formação de professores indígenas.
Equipe do ministério de Guajajara
A ministra Sônia ainda apresentou a equipe da pasta durante o seu pronunciamento oficial. Confira os nomes e respectivos cargos:
Eloy Terena, secretário-executivo;
Jozi Kaigang, chefe de Gabinete;
Eunice Kerexu, secretária de Direitos Ambientais e Territoriais;
Ceiça Pitaguary, secretária de Gestão Ambiental e Territorial Indígena;
Juma Xipaia, secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas;
e Marcos Xucuru, assessor especial do MPI.
IGUALDADE RACIAL
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, fez um discurso demarcando a importância da luta contra o racismo, fascismo e as violências de gênero e de raça. E sinalizou que o racismo e antirracismo serão trazidos “para o centro do debate político brasileiro” e convidou a população brasileira a caminhar junto diante desse ideal.
A ministra da Igualdade Racial lembrou a fala do presidente em seu discurso de posse, quando Lula, na ocasião, apontou que “o Brasil do futuro precisa responder às dívidas do passado". Em seguida colocou a pasta a serviço dos demais ministérios. “O compromisso da igualdade racial no Brasil não pode ser um compromisso apenas desse ministério”.
Anielle Franco enfatizou que vai trabalhar para aumentar a presença de negros nos espaços de tomada de decisão do Governo e que vai lutar pelo aumento de cotas raciais.
Ela listou os “trágicos” índices da população negra do país relacionados às taxas de encarceramento, violência policial, feminicídio e subempregos. “Não podemos ignorar que a raça e a etnia são determinantes para as desigualdades no Brasil”, criticou. “Afinal, que Estado de direito é esse que estamos falando? Não é essa democracia racial que queremos. Enquanto houver racismo, não haverá democracia”.
A chefe da Pasta da saiu em defesa dos povos negros em seu discurso, assim como dos povos indígenas, corroborando a fala da sua colega Sônia Guajajara. Anielle relembrou sua trajetória e destacou a memória da irmã. Marielle Franco, vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, foi assassinada em março de 2018 junto com o motorista Anderson Gomes. Os mandantes do crime ainda não foram identificados.
Por fim, Anielle fez uma sinalização aos negros e não-negros. “Caminhem conosco”, até que um dia a população brasileira não vai mais chorar pela morte de uma mulher negra, assim como será “uma realidade” uma mãe não ter mais medo que o seu filho não irá voltar para casa diante da violência da população preta.
Fonte: O Tempo