Dez mandados de prisão, sendo quatro preventivas e seis temporárias, e 25 mandados de busca e apreensão são cumpridos por crimes que aconteciam na Prefeitura de Itajubá
Dr. Nilo Baracho é apontado como principal articulador de esquema de corrupção em Itajubá, no Sul de Minas (Foto/Reprodução/Facebook)
O vice-prefeito de Itajubá, no Sul de Minas, Dr. Nilo Baracho, foi preso no âmbito de duas operações do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e das polícias Militar e Civil na manhã desta terça-feira (20). O MP aponta ele como um dos articuladores de um esquema de corrupção na prefeitura local, onde também exerce o cargo de secretário municipal de Saúde. O Executivo foi procurado, e a reportagem aguarda o posicionamento.
De acordo com a promotoria, os agentes cumprem 10 mandados de prisão e 25 de busca e apreensão em Itajubá, São José dos Campos (SP) e Campos do Jordão (SP). Entre os de prisão, quatro são em caráter preventivo e seis em temporário. A temporária dura no máximo 10 dias e só pode ocorrer durante a fase de investigação policial. Ela serve como meio para coleta de provas. Já a preventiva não tem prazo máximo e pode ser decretada em qualquer fase, caso haja indícios que liguem o suspeito ao crime investigado.
Segundo o Ministério Público, a primeira operação trata de desvio de recursos públicos e privados do Hospital das Clínicas de Itajubá, que ocorreram entre 2016 e o ano passado. Os investigados são suspeitos de organização criminosa, peculato, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. Essa investigação ganhou o nome de "Transfusão". Além do vice-prefeito, dois diretores e um ex-diretor da unidade de saúde foram presos.
"A partir de notas fiscais frias, o hospital pagava mensalmente alguns fornecedores, que convertiam esses pagamentos, a maioria em cheque, em dinheiro vivo. Esse valores, então, eram entregues diretamente ao secretário de Saúde", disse o promotor de Justiça Eduardo Machado.
Já a operação Sepulcro Caiado também investiga o desvio de dinheiro público, mas por meio de superfaturamento de serviços de mecânica de veículos da prefeitura. Os crimes aconteciam nas secretarias municipais de Saúde, Educação e de Obras de Itajubá. Na prática, havia a emissão de notas fiscais frias, ou seja, os suspeitos simulavam a realização de serviços que nunca aconteceram. Em contrapartida, dinheiro público era distribuído para "pagar" pelos trabalhos nunca executados.
"O vice-prefeito recebia depósitos em espécie com frequência. Somente num período que nós investigamos, ele recebeu em torno de R$ 800 mil. Alguns desses depósitos foram identificados, possivelmente por exigência do banco. As informações identificavam um servidor municipal, que era justamente o servidor que recebia repasses da oficina e encarregado de encaminhar os veículos da prefeitura para a oficina", afirmou o delegado Kalil Ribeiro Dias, da Polícia Civil de Itajubá. Segundo o policial, alguns empenhos dão conta de um superfaturamento de até 10 vezes maior que o preço real do serviço.
Também houve lavagem de dinheiro. O delegado afirmou que o vice-prefeito Nilo Baracho chegou a vender e recomprar, dias depois, um carro. O mesmo servidor usado para superfaturar as notas da oficina mecânica participou dessa falsa transação.
O vice-prefeito Nilo Baracho é investigado nos dois procedimentos, segundo o MP. A primeira investigação tem coordenação do Ministério Público, enquanto a segunda é tocada pela Polícia Civil de Minas Gerais.
Nilo Baracho está no seu primeiro mandato como vice-prefeito de Itajubá, numa chapa encabeçada por Christian Gonçalves (União Brasil). Nilo também tentou ser vereador da cidade em 2016, mas não obteve sucesso. Ainda assim, se tornou secretário municipal de Saúde na mesma prefeitura em 2016.
O investigado foi professor por quase 20 anos da Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIT) e é doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Tratamento precoce
Em março de 2021, durante a pandemia da covid-19, o vice-prefeito Nilo Baracho, doutor em saúde, chegou a endossar o tratamento precoce contra a infecção pelo coronavírus. À época, ele e o prefeito Christian Gonçalves anunciaram que a Itajubá disponibilizaria ivermectina, vitamina D e zinco para combater a doença. Esses medicamentos nunca tiveram qualquer comprovação de eficácia.
Fonte: O Tempo