Novelas, filmes e seriados são produções fictícias, porém boa parte aproveita situações reais para colocar na pauta do dia dramas vividos dentro de casa e que se manifestam na sociedade. Dramas que envolvem violência, desestruturação familiar e que servem como exemplo para a análise de pais na busca de como educar os filhos. Segundo a psicóloga Ângela Marina Kefalás Barbosa, especialista em Psicologia Infantil e Familiar, casos semelhantes estão cada dia mais frequentes. “No cotidiano, as relações interpessoais têm se mostrado mais agressivas. E é na fase escolar que ficam evidenciadas. O desrespeito, o afrontamento à autoridade, as brigas e agressões, as ameaças e intimidações a colegas (“bullying”) infelizmente fazem parte de um cenário comum, hoje, nos consultórios. Adolescentes têm a internet como aliada para ofender e expor colegas, trazendo constrangimentos. Intimidados e sem saber como agir, os pais vêm cedendo às imposições dos filhos e deixando os limites de lado”. Para ela, a educação sem limites é desastrosa e tem sido preocupante, pois evidencia o adoecimento psíquico e a desestruturação das pessoas. “O predomínio do princípio do prazer e o não controle da impulsividade, a exemplo do que é retratado na novela Caminho das Índias, decorrem de um protecionismo exagerado dos pais e infantilização do filho, tornando-o incapaz de respeitar regras e limites”. Ao evitar que os filhos sofram frustrações, assumindo seus erros e irresponsabilidades, os pais estão superprotegendo-os e acabam atrasando o amadurecimento deles. “Podemos afirmar que o mundo atual exige uma inteligência mais livre e nos vemos despreparados para lidar com o avanço tecnológico destinado ao próprio bem-estar. A liberdade, que deveria ser proporcional à responsabilidade, está numa relação inversa. E o consumismo exagerado e a competitividade trazem como consequência o estresse, a ansiedade, o medo e a angústia”, esclarece Ângela. Para a psicóloga, as famílias vêm sofrendo mudanças em sua constituição e na maneira de viver. “Estamos num processo de adaptação. Com a produção independente de filhos, a gravidez precoce, o aparecimento de novos tipos de união conjugal e o crescente número de separações e recasamentos, a criança passa a conviver com diversas referências. Hoje, ela possui mais de uma família nuclear e, muitas vezes, acha-se isolada”, completa. E essas mudanças influenciam de forma definitiva na educação de valores. “Depende de como se lida com as mudanças e preconceitos. Educar não é uma missão fácil, pois envolve a pessoa do educador, sua personalidade e história de vida, emoções, amadurecimento e seu comprometimento com esta função. Ter esclarecimentos é importante, mas a eficácia dependerá de seu autoconhecimento, da possibilidade de se questionar e se modificar. Os pais têm o dever de transmitir valores e virtudes como generosidade, polidez, simplicidade, humildade, compaixão e respeito nas relações”, recomenda Ângela. Limites. Passaram a ser constantes denúncias de más condutas, seguidas de impunidade; reflexo de uma educação deficiente. “Educar não é bater, xingar, mas o errado deve ser corrigido. É necessário que haja diálogo, bons exemplos e coerência. Regras e disciplina são indispensáveis e os limites devem existir em qualquer momento. Os pais ou educadores não podem se curvar diante dos desejos das crianças ou adolescentes, senão estarão alimentando a fragilidade psíquica deles. Também tem que haver o cuidado. Não se deve recorrer a humilhações, pois elas produzem intensos sofrimentos pessoais e sociais. A pessoa humilhada não se sente digna de ser amada ou aceita”. As dúvidas principais dos pais são quando e como devem começar a dialogar com os filhos. “Devemos fazer com que a criança desde pequena perceba e compreenda seus limites; saiba ouvir e respeitar outro ponto de vista. Para uma vida em grupo, é preciso desenvolver a habilidade de se colocar no lugar do outro; praticar o altruísmo em lugar do egoísmo; respeitar e se fazer respeitado”, recomenda Ângela Kefalás. Quanto ao papel da escola na educação de crianças e jovens, a psicóloga revela que famílias e escola devem considerar a responsabilidade que lhes cabe. “Os pais não devem desautorizar nem ser desautorizados. É preciso haver sintonia de princípios entre os dois, para que o filho tenha a mesma referência”, conclui.