Xingamentos, humilhações, violência verbal. Levantamento realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia) revelou que cerca de 40,5% dos estudantes do Rio de Janeiro estavam diretamente envolvidos em atos de bullying, termo americano utilizado para caracterizar comportamentos agressivos e desrespeitadores que acontecem, principalmente, entre jovens estudantes. “A cobrança das escolas a respeito de conteúdos, a competitividade tão intrínseca ao nosso sistema capitalista, também estimulada pelo contexto escolar, a falta de tempo derivada de tantas atividades, da quase não permissão, ainda que subjetiva, de descanso e tempo para brincar, e a falta de carinho e bons exemplos dos pais em casa agravam bastante a pressão e o estresse sofridos pelos jovens”, conta a psicóloga Lina Gabriella Resende Lamounier. Ela acrescenta que esses fatores os deixam mais agressivos e com tendência a descontar nos mais fracos, por meio de atitudes destrutivas, as suas próprias angústias e problemas. Os dados da Abrapia, sem dúvida, representam não só o Rio de Janeiro como retratam a realidade brasileira. A violência nas escolas, segundo as estatísticas, está cada vez maior, seja por agressões físicas ou verbais. Enquanto isso, para a especialista, as escolas no país ainda são muito omissas em relação ao bullying. “Na maioria das vezes, os professores fazem ‘vista grossa’ em relação aos maus-tratos sofridos por alguns alunos, o que, na minha opinião, o coloca cúmplice da situação. Como o próprio nome já diz, educador está ali para educar, para contribuir para a formação daqueles alunos, tanto acadêmica quanto pessoal. O educador deve fazer parte da solução, e não do problema”, destaca Lomounier. De acordo com a psicóloga, a palavra-chave para a solução do problema é “conscientização”. E, nesse contexto, a especialista orienta para que os professores trabalhem nas salas de aula a consciência dos alunos a respeito de suas atitudes e as consequências das mesmas para a vida deles e para o mundo, de maneira geral. Conforme Lia Gabriella esclarece, o maior prejuízo do bullying é a formação de uma pessoa que passa a acreditar ser vítima eterna ou uma fraca, “que não pode nada”. “Esse pensamento vai fazer com que tenha atitudes que vão prejudicá-la em vários aspectos e pode não permitir que ela desenvolva seus potenciais”, sentencia. Outro prejuízo muito grave, que pode surgir de uma sucessão de humilhações, é a transformação da vítima em agressor, a fim de descontar o sofrimento sentido, podendo chegar inclusive a cometer assassinatos. “Há que se encontrar força dentro de si para levantar, superar o acontecido, sem se deixar envenenar pelo mal. Mesmo que ela tenha sofrido situações terríveis, acredito sempre na capacidade de cada um de dar a volta por cima e se tornar uma pessoa incrível”, opina a psicóloga. Para evitar as consequências negativas do bullying, a orientação, segundo Lamounier, é que o jovem procure apoio psicológico, tanto para que possa tratar os traumas adquiridos, quanto para que mude a sua postura. “Se ele se encontra na posição de vítima é porque, de alguma maneira, ele se permitiu estar lá. E precisa sair disso para uma atitude mais forte em relação à vida. Além disso, o tratamento é importante, para que o jovem não passe de vítima para agressor”, avisa.