De acordo com dados do Sistema Nacional de Transplantes, no início de 2008, foram registradas cerca de 70 mil pessoas na fila de transplantes à espera de um órgão. O número de doadores teve um aumento em virtude da abertura de novos centros de captação de órgãos e tecidos em todo o país. Segundo o coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante do Hospital das Clínicas da UFTM (CIH-DOTT HC/UFTM), Ilídio Antunes de Oliveira Júnior, até 2000 era necessário colocar na carteira de identidade ou de motorista a identificação de doador ou não doador de órgãos. “Hoje, para ser doador cadáver, que é o paciente que tem a morte cerebral confirmada, basta informar à família o seu desejo de ser doador de órgãos e tecidos. Desta forma, mesmo num momento de dor, em que a família recebe o diagnóstico da morte, vai ficar mais fácil para a família confirmar a vontade do paciente, autorizando a doação”. Decisão. O coordenador afirma que não há necessidade de deixar expressa em nenhum documento a sua vontade. “O importante é falar para a família, porque hoje o documento não tem valor jurídico nenhum. Se uma pessoa coloca em qualquer documento que a sua vontade é ser doador e a família, no momento da decisão, optar pela não doação, ela não acontece. O médico respeita a decisão da família”. Há também a doação de quem teve morte súbita ou mesmo daquele que a faz em vida. “Nós temos o doador cadáver, que é o paciente com morte encefálica, ou aquele que morreu subitamente, por infarto, derrame cerebral, dos quais nós temos até 6 horas para retirar córneas, tendões, ligamentos, ossos e pele”. Em vida, a pessoa pode doar órgãos desde que haja compatibilidade com o receptor, geralmente uma pessoa da família. “Pode doar medula óssea, sangue, parte do fígado e parte do pulmão. E, obviamente, para que uma pessoa seja doadora em vida, ela tem de estar em plenas condições de saúde”, destaca Ilídio Antunes. Por isso, o coordenador explica que o doador é avaliado por uma bateria de exames, que vão confirmar se está sadio e apto. “Não pode apresentar doenças infectocontagiosas; ser portador do HIV; ser soropositivo para hepatite B e C, doença de Chagas ou para sífilis; estar em tratamento de tuberculose; ter dengue; doenças que impedem a doação. Desde que ela esteja sadia, pode ser doadora em vida”. Autorização. Em caso de morte, a família pode tomar algumas medidas para facilitar a doação. “Se for uma morte natural, ou seja, não provocada por derrame cerebral ou uma batida forte na cabeça e não evoluiu para a morte cerebral, nós temos até 6 horas para retirar os órgãos. Basta entrar em contato com o nosso serviço de captação de órgãos no Hospital de Clínicas da UFTM, pelos telefones 3318-5845 e 3318-5182, e fazer a comunicação. Tomamos todas as providências para viabilizar a doação. Obviamente, que a retirada dos órgãos ou tecidos só pode ser efetivada após a autorização da família, para que, posteriormente, através de duas testemunhas no termo de doação, sejam feitos os procedimentos. Em Uberaba, o Hospital de Clínicas da UFTM realiza transplantes de córneas, rins e coração, autorizados pelo Ministério da Saúde. “Entre 2000 e 2002, foram feitos em torno de onze transplantes”. Para Ilídio, cada órgão possui a sua lista de receptores em espera, que fica cada vez menor. “Há dois anos, no HC, esperava-se quase um ano e meio, para receber um órgão, mas hoje temos feito transplantes com uma média de espera de 60 ou até 70 dias. Nos quadros de urgência, consegue-se a cirurgia dentro de 48 a 24 horas. Já tivemos 200 pessoas na lista de espera de córneas. Hoje, temos de 20 a 25”. Mas ele alerta que é importante o empenho das pessoas para que isso melhore. “No Brasil, temos 70 mil pessoas aguardando a generosidade de um cidadão”, conclui.