CUIDADOS

Novembro Roxo: Médica fala sobre os desafios da prematuridade

Publicado em 10/11/2024 às 18:39
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75% das mortes prematuras poderiam ser prevenidas com cuidados adequados e intervenções simples e eficazes (Foto/Reprodução)

75% das mortes prematuras poderiam ser prevenidas com cuidados adequados e intervenções simples e eficazes (Foto/Reprodução)

O mês de novembro é dedicado à conscientização sobre a prematuridade, com a campanha Novembro Roxo. A iniciativa visa informar e sensibilizar a população sobre os desafios e cuidados que envolvem o nascimento prematuro, um tema de extrema relevância, já que cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros no mundo a cada ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Além disso, 75% das mortes prematuras poderiam ser prevenidas com cuidados adequados e intervenções simples e eficazes, como acesso a tratamento neonatal especializado e suporte respiratório. Somente no Brasil, cerca de 340 mil bebês nascem prematuros a cada ano, representando cerca de 11,5% de todos os nascimentos no país. 

Para destacar a importância do tema, a médica pediatra e neonatologista e coordenadora técnica da Unidade de Terapia Neonatal (UTI NEO) do Mário Palmério Hospital Universitário (MPHU), Debora Martins Ferreira, aborda os principais desafios enfrentados pelos bebês prematuros, os avanços no cuidado neonatal, e o impacto positivo que campanhas como o Novembro Roxo podem trazer para a conscientização e prevenção da prematuridade. 

O que define um bebê como prematuro e quais são os principais fatores que podem levar ao nascimento prematuro? 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) prematuros são os bebês que nascem antes de 37 semanas de idade gestacional. As principais causas de nascimento prematuro são doenças maternas como hipertensão arterial, diabetes, infecções – principalmente de urina. Também estão associados a mais nascimentos prematuros as gestações de gêmeos, uso de álcool, fumo e drogas ilícitas. 

Quais são os desafios mais comuns que os bebês prematuros enfrentam nas primeiras semanas de vida? 
Quando mais prematuro é o bebê, mais dificuldades ele terá desde o nascimento. A grande maioria dos bebês prematuros terá dificuldades para respirar e precisará de algum suporte para a respiração, desde intubação até ventilação não invasiva. Os recém-nascidos prematuros podem nascer com infecções e, também, tem maior risco de desenvolverem infecção enquanto estão internados. Os prematuros apresentam dificuldade de combater as infecções e elas podem inclusive leva-los à morte. 

Os bebês prematuros não conseguem controlar a temperatura do corpo, por isso precisam das incubadoras. 

Eles ainda não desenvolveram a capacidade de mamar - que envolve controle de sugar, respirar e engolir – e precisam utilizar sonda para alimentação. E os prematuros que nascem até 32 semanas ou menores que 1500g, apresentam maiores riscos de complicações graves que podem inclusive deixar sequelas pra toda a vida como hemorragia cerebral, doença na retina que pode levar à cegueira e doença pulmonar crônica grave. 

Quais avanços nas unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN) têm ajudado a melhorar a sobrevida e qualidade de vida dos bebês prematuros? 
A Neonatologia é uma área relativamente recente da Medicina e seu maior desenvolvimento se deu a partir da década de 1960. 

Um grande marco para a sobrevida dos prematuros foi a produção de surfactante exógeno, um medicamento que é administrado diretamente na traqueia dos bebês se espalhando pelos pulmões e tratando a doença pulmonar conhecida como membrana hialina. 

Os ventiladores mecânicos, também conhecidos como respiradores, também foram sendo modernizados e adaptados para atender os prematuros. 

Hoje conseguimos ventilar bebês de 500g com segurança, permitindo sua sobrevivência. As incubadoras fazem controle de umidificação, controle rigoroso de temperatura, permitem elevação a cabeceira e fazem isolamento do ambiente externo. 

Um grande ganho para os prematuros também foi o desenvolvimento da tecnologia de pasteurização do leite materno, feita pelos Bancos de Leite Humano. 

O leite materno é o melhor alimento para os recém-nascidos, mesmo os prematuros. A possibilidade de alimentar os bebês com leite humano melhorou a sobrevivência, reduziu algumas complicações graves e aumentou o sucesso de aleitamento materno após a alta dos bebês prematuros. 

Quais são os cuidados específicos que um bebê prematuro precisa durante a internação na UTI neonatal? 
Um recém-nascido prematuro precisa de cuidados específicos desde o nascimento. Quanto menor a idade gestacional do bebê, maior a chance de que ele precise ser reanimado em sala de parto, ou seja, que ele precise de ajuda para começar a respirar e às vezes até para manter o batimento cardíaco. 

Desde a saída da barriga da mãe, ele necessita de cuidados para manter a temperatura do corpo, porque a hipotermia pode causar lesões e até levar à morte. 

É necessário um ambiente com menos barulho e luzes. A forma de mexermos com o bebê também é diferente. Todos esses cuidados tem objetivo de preservar o cérebro do bebê que ainda é muito imaturo para que possa se desenvolver da melhor forma possível e auxiliar na prevenção de lesões que podem inclusive deixar sequelas. 

Os equipamentos, ambiente, dispositivos como tubos para alimentação e respiração, acessos venosos, ventiladores e monitores de saturação, pressão, temperatura devem todos ser específicos para os recém-nascidos.  

Como o papel da equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas) contribui para o desenvolvimento dos bebês prematuros na UTI neonatal? 
Da mesma forma que os equipamentos, os profissionais que atuam nas unidades neonatais precisam ter formação para o cuidado com estes pacientes. Os procedimentos e intervenções tem como objetivo não só manter a vida dos pacientes, mas garantir o desenvolvimento e crescimento adequados. 

O cuidado deve ser multidisciplinar, ou seja, profissionais de áreas diferentes trabalhando com objetivo comum. São parte deste cuidado em nossa UTI médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos e assistentes sociais. 

O plano de cuidados dos pacientes é discutido em visitas com os profissionais das diversas áreas para a melhor tomada de decisão. 

Quais os principais sinais de alerta para os pais de bebês prematuros durante e após a internação? 
Durante a internação a família tem acesso livre à unidade, acompanha as visitas multiprofissionais e é orientada sobre a evolução de seu filho – sejam favoráveis ou graves – e participam do dia a dia do processo de cuidado da criança. 

Após a alta, é importante que a família seja acompanhada uma equipe especializada de sua confiança. Os sinais de doenças agudas são os mesmos da outras crianças: febre, recusa da alimentação, sonolência excessiva, entre outros. Porém, nessas crianças, é necessário acompanhar, de acordo com sua idade gestacional crescimento, ganho de peso e desenvolvimento neurológico. 

Alguns bebês também apresentarão sequelas pela prematuridade. O acompanhamento especializado é que garantirá que os sinais de evolução desfavorável sejam percebidos de forma precoce e que a criança receba as intervenções em tempo hábil. 

Qual a importância do acompanhamento a longo prazo para os bebês prematuros e quais são as principais áreas de cuidado que devem ser observadas no desenvolvimento dessas crianças? 
Quanto mais prematuro é o bebê, mais frequentes são as complicações associadas à rematuridade que ele pode apresentar ao longo da vida. Cada prematuro, no momento da alta para casa, terá uma programação de cuidados de acordo com sua história de vida. Os cuidados mais frequentes são: 

- Seguimento de doença pulmonar, com avaliações periódicas pneumologista pediátrico e fisioterapia respiratória; 

- Avaliações oftalmológicas, com especialistas em retina e Oftalmopediatra; 

- Desenvolvimento neurológico: seguimento com neuropediatria e estimulação precoce com equipe multidisciplinar formada por fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos; 

- Crescimento e ganho de peso: alguns prematuros apresentam atraso e necessitam avaliação e endocrinologista. 

Todas essas avaliações são coordenadas pelo pediatra que acompanha a criança mensalmente. É ele quem vai definir as necessidades e o melhor momento de avaliação para cada criança. 

É importante lembrar que os bebês prematuros possuem crescimento e desenvolvimento diferentes e nunca devem ser comparados com recém-nascidos que nasceram saudáveis no tempo de gestação correto. 

Como o apoio emocional às famílias de bebês prematuros pode impactar positivamente na recuperação e desenvolvimento das crianças? 
Durante a gestação, a família tem a expectativa de dar à luz um bebê saudável, que terá alta rapidamente, em seus braços. Quando um recém- nascido necessita de internação, essa ideia é substituída pela dor da separação, o medo da perda, a sensação de não ser suficiente para cuidar do próprio filho. 

O acolhimento da família pela equipe da UTI, reconhecendo suas angústias, fornecendo informações claras e permitindo a permanência e o envolvimento dos pais na rotina, aos poucos, traz serenidade e reduz a separação. 

É imprescindível o acompanhamento pela equipe de Psicologia que fornecerá a estes pais, além do acolhimento, intervenção profissional para que os pais consigam lidar com a realidade do filho adoecido. 

Os pais que se sentem acolhidos e cuidado permanecem mais tempo dentro da UTI, se sentem seguros em interagir coma equipe para retirada de dúvidas e participação das decisões e se integram mais rapidamente do dia a dia do cuidado com seus filhos. 

Você poderia nos falar sobre a importância do método canguru e do contato pele a pele para o desenvolvimento dos prematuros? 
O método Canguru é um modelo de assistência humanizado no qual se procura manter os bebês em contato pele a pele com os pais pelo maior período possível, em posição inspirada pela forma como os cangurus carregam seus filhotes. O método Canguru é pautado em cinco pilares: Acolhimento ao bebê e à sua família, respeito às individualidades do recém-nascido e de seus pais, promoção do contato pele a pele precoce, envolvimento da mãe e do pai nos cuidados com o bebê e apoio a amamentação. 

A utilização do método Canguru mostra benefícios como maior vínculo e maior afetividade entre pais e filhos reduzindo o tempo de separação entre eles, maior tempo de aleitamento materno, redução do stress e da dor do recém-nascido com melhora do desenvolvimento sensorial, melhor controle térmico do bebê, melhor relacionamento entre a equipe assistencial e a família e pais mais seguros para o cuidado com seu filho na alta hospitalar. 

Qual é o papel da conscientização, como a campanha Novembro Roxo, na melhoria dos cuidados e na prevenção da prematuridade? 
O Novembro Roxo é uma iniciativa para sensibilizar sobre a causa da prematuridade. Faz um alerta sobre os números crescentes de partos prematuros, a necessidade de acesso a pré natal de qualidade e controle das doenças crônicas como forma de prevenção à prematuridade. 

Também é um momento de revisão sobre a qualidade da assistência prestada aos recém-nascidos e suas famílias. É, portanto, um período de convite ao estudo e treinamentos nas unidades neonatais visando sempre atingir as melhores práticas assistenciais ao prematuro 

É ainda a oportunidade de chamada de atenção para governos, operadoras de saúde e outros seguimentos sociais para a necessidade de fornecer condições de cuidados a gestantes e bebês prematuros, desde o pré natal até o seguimento pós alta, com acesso a serviços especializados permitindo redução da mortalidade, cuidados integrais e reabilitação adequada com intuito de proporcionar o melhor desenvolvimento possível à estas crianças. 

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