Uma pesquisa realizada com base em dados de mulheres que deram à luz uma criança viva na Dinamarca, de 1979 a 2002, o que equivale a 1,35 milhão de mães, mostrou que o estresse severo até seis meses antes da concepção pode levar a um parto prematuro. Pesquisadores da Universidade de Manchester, no Reino Unido, constataram que problemas importantes com algum parente próximo aumentaram o risco de parto prematuro em 16%. Problemas sérios com o filho mais velho aumentaram as chances de nascimento até 37 semanas de gestação em 23% e de parto antes da 33ª semana em 59%. “Definimos estresse como morte ou doença séria em um parente próximo. Esses eventos são objetivos e puderam ser extraídos dos registros dinamarqueses com precisão. Mas outros estressores, como trabalho e problemas financeiros, podem ter efeitos semelhantes, mas são mais difíceis de medir em nível populacional”, disse ao jornal Folha de S. Paulo, Ali Kashan, responsável pela pesquisa. Há poucos estudos que trazem essa relação, de acordo com especialistas. “Um trabalho científico [relacionando estresse antes da concepção e prematuridade] é algo novo, mas o tema está muito em alta, porque, apesar do aumento da qualidade do pré-natal, o número de prematuros aumentou em diversos países — o estresse é um dos fatores. Estresse com marido e familiares, gravidez indesejada e agressão física também têm sido relacionados à gravidez pré-termo”, diz Ricardo de Carvalho Cavalli, professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto. Para o ginecologista Roberto Bittar, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e da comissão científica da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (Sogesp), o trabalho é relevante. “A amostra é grande e isso é importante em Ciência”. No entanto, ele acredita que outras causas possam ter contribuído para os partos prematuros entre as mulheres estudadas. “Na metodologia, não foram afastadas as outras causas de parto prematuro, então fica muito difícil afirmar que os partos ocorreram [prematuramente] por um estresse preconcepção”. Mesmo assim, é possível dizer que o estresse pouco antes de ocorrer a gravidez e nos dois primeiros trimestres de gestação pode aumentar as chances de prematuridade — e de abortamento e pré-eclampsia. “Ainda estamos estudando, mas há indícios de que o estresse libera substâncias que, provavelmente, causariam contrações uterinas e parto antes da hora, além de pressão alta na gravidez”, diz Cavalli. Hipótese semelhante têm os pesquisadores do estudo. Para eles, o estresse causado por eventos severos pode aumentar a liberação do hormônio corticotropina e aumentar a produção de cortisol. “Fatores estressantes severos próximos ao tempo de concepção podem alterar os níveis de cortisol maternos e a produção de corticotropina, que regula ovulação, implantação e placentação [formação da placenta]. Também foi observada a elevação precoce de corticotropina na placenta em mulheres que pariram prematuramente”, afirma Kashan.