SAÚDE

Estudo divulgado em Congresso revela o alto preço da vaidade

Esta é uma das constatações apontadas pelo estudo Depresíon en Latinoamérica (Dela), divulgado durante o XXV Congresso da Associação Latino-Americana de Psiquiatria.

Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 15:20
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Alguns anos de vida por uma cinturinha, apatia sem fim em troca de uma silhueta enxuta. Prioridades femininas como essas resumem uma visão de mundo que tem assustado a classe médica: é como se a vida só valesse à pena se vivida por um corpo magro. “Há um medo mórbido de engordar, a ponto de a mulher preferir a doença ao risco de ganhar peso”, diz Marco Antonio De Tommaso, psicólogo pela USP, terapeuta e consultor das agências de modelo Elite e L’Equipe. Conforme matéria distribuída pela Agência Estado e divulgada na semana passada na Internet, beleza à custa de saúde é uma das constatações apontadas pelo estudo Depresíon en Latinoamérica (Dela), conduzido pelo Ibope e divulgado durante o XXV Congresso da Associação Latino-Americana de Psiquiatria, na Venezuela. Entre as 1.100 latinas entrevistadas, todas com idades entre 35 e 55 anos, as brasileiras são as que mais abandonam o tratamento contra depressão em função do ganho de pes o índice chega a 30%, seguido por 18% na Colômbia.   “Algumas mulheres se recusam a tomar o remédio indicado pelo médico, mas ingerem qualquer coisa para emagrecer recomendada pela amiga. A fluoxetina, por exemplo, é originalmente um antidepressivo, mas há paciente que só passa a consumi-la quando é receitada pelo endocrinologista como um coadjuvante no regime porque inibe o apetite”, critica Tommaso.   Não é apenas o ganho real de peso que atemoriza as mulheres à beira de uma depressão. Quase metade das brasileiras analisadas pelo Dela (45%) admite que a mera possibilidade de engordar por meio de antidepressivos é capaz de desencorajar uma adesão ao tratamento.   O levantamento consultou também venezuelanas, colombianas, mexicanas e chilenas. No Brasil foram ouvidas 300 mulheres, em três capitais (São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre). Para 97% delas a mudança no apetite é, de fato, o principal efeito da depressão.   Mestre em psiquiatria e vice-presidente do Departamento de Psicoterapia da Associação Brasileira de Psiquiatria, Fátima Vasconcellos analisa a relação entre depressão e comida: “O diagnóstico da depressão passa pela verificação do aumento ou queda de fome, a doença tem ligação com os transtornos alimentares”, explica. “Antidepressivos podem engordar, sim, mas não tratar a depressão pode fazer engordar muito mais.”   Para Fátima, “subestimar uma doença só para manter a forma já é sinal de que algo não vai bem”. Ela lembra que algumas mulheres usam esse mesmo argumento para não tratar o tabagismo. “Outras deixam de aplicar insulina na dose certa também para não engordar. Isso mostra que cada um pode ser seu pior inimigo.”   Doutor em psiquiatria pela USP e coordenador do Programa de Atenção à Saúde Mental da Mulher, Joel Rennó Jr. recomenda cautela ao analisar antidepressivos. “Efeitos dependem do tempo de uso e da dosagem. Há diferenças entre as classes de antidepressivos e até mesmo entre remédios da mesma classe. A prevalência de obesidade é de duas a cinco vezes maior entre pacientes com distúrbios psiquiátricos tratados com fármacos em comparação à população em geral, mas esse efeito não depende só do remédio. Reações particulares de cada metabolismo também contam.”   Rennó, que acaba de lançar o livro “Mentes Femininas”, diz que o ganho de peso, quando desencadeado pela medicação, corresponde em média a 5% do peso corporal da mulher. “É algo em torno de 3kg quando se tem 60kg, ou seja, não serão esses quilos que levarão à obesidade. As mulheres, em todas as idades, têm grande preocupação com a imagem. Isso reflete pressões conjugais, sociais ou até no próprio trabalho”, acredita.

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