SAÚDE

Homens pedem ajuda para lidar com doenças de mulheres

Todos os dias, 12 mulheres portuguesas descobrem ter câncer de mama. Por elas, há um filho, marido ou amigo que sofrem.

Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:58
Compartilhar

Todos os dias, 12 mulheres portuguesas descobrem ter câncer de mama. Por elas, há um filho, marido ou amigo que sofrem. A campanha “Eles também choram”, naquele país, surgiu há um ano e já recebeu 1.800 pedidos de ajuda.   “Há uma fase em que, entre a sensação de injustiça e de raiva, é impossível um homem não chorar... Obviamente, eu não fui excepção”, conta Eduardo Gomes, casado com uma mulher com câncer de mama, em matéria divulgada pela agência Lusa. Na ânsia de protegê-las, os homens guardam para si dúvidas, medos e angústias. Vivem em silêncio a iminência da morte. Hoje, dez anos após ter sido confrontado com a doença da mulher, Eduardo lembra como, sozinho, tentou encontrar as “palavras certas, sempre sem certezas”.   Pensando nisso, uma entidade portuguesa lançou no ano passado a campanha “Eles também choram”. Em apenas 12 meses, foram recebidos 1.800 e-mails pedindo ajuda, a maioria de companheiros (80 por cento), mas também de filhos, familiares e amigos.   Nas cartas, os parentes das vítimas queriam saber como poderiam ajudar as mulheres, mas há também quem queria apenas desabafar. “A questão de fundo é sempre a mesma: e se ela me falta?”, explica Ana Lúcia, psicóloga.   “Quando vamos ao hospital, olhamos para a pessoa que nos é querida e pensamos que, se calhar [acontecer], da próxima vez que voltarmos, ela já não vai estar lá. Sentimo-nos impotentes”, lembra Raul Almeida, 58 anos, amigo de uma mulher que não resistiu à doença.   Também na Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro [câncer] da Mama (APAMCM), já há psicólogos, como Carla Vicente, que acompanham estes homens.   “Um dos momentos mais difíceis para os que são próximos é quando é conhecido o diagnóstico. Na fase de tratamento, há uma angústia, um sentimento de incapacidade de ajudar quem está a sofrer. Já no pós-operatório, há sempre o medo de uma reincidência”, explica Carla Vicente, garantindo que “é um sofrimento que não termina”.   Apesar de a taxa de sucesso dos tratamentos se situar na casa dos 80 por cento, o câncer de mama continua sendo a principal causa de morte das mulheres entre os 35 e os 55 anos em Portugal. Por isso, o diagnóstico soa sempre a “uma sentença de morte”. As palavras são de Manuela Martins, 47 anos, que há três anos descobriu ter um cancro da mama. “O peso da palavra cancro [câncer] é tão grande que imaginamos o inferno”, resume.   “Nós queremos dar uma perspectiva positiva, mas não acreditamos naquilo em que estamos a dizer, porque só pensamos que, mais cedo ou mais tarde, aquela pessoa não vai estar entre nós”, recorda Raul Almeida, que criou um blog para dar apoio psicológico a pessoas com doenças graves.   Eduardo recorda que foi uma “simples conversa” com uma senhora, também com câncer, que o fez ter esperança. Chama-lhe a “fase mística ou religiosa”, aquela em que se “deixa de ver a morte e passa-se a ver a vida”. As técnicas que trabalham nas associações sabem que a partilha de experiências ajuda a superar as dificuldades.   Mas, segundo a responsável do Movimento Vencer e Viver, “os homens ainda não gostam de expor os seus sentimentos em público”. E, por falta de participantes, o início dos grupos de interajuda tem sido adiado. Por isso, o apoio psicológico está sendo feito por e-mail ou através de entrevistas pessoais.  

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por